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História, educação e 200 anos de Independência

Sou licenciado em história, por vontade própria. Entre graduação e doutorado (USP) foram 11 anos contínuos de estudo. Eu tenho orgulho de dizer que sou professor. Durante muito tempo lecionei em turmas do ensino médio e em cursos técnicos e sempre ouvi perguntas semelhantes: “para que estudar história?”, “vamos estudar essas coisas que já passaram e que estão mortas?”, “nós temos de viver o presente, não é professor?”. No Unisal, onde lecionei até o ano passado, sempre dialoguei com meus alunos sobre a importância do ensino da história. 

Há no senso comum uma perspectiva de que história é o estudo de algo “morto” e que, por isso, não tem importância. Aprendi que a história nos dá consciência do presente, nos permite compreender o mundo que estamos vivendo, nos traz luz sobre os porquês dos acontecimentos políticos, econômicos, sociais, culturais e tantos outros. Ao mesmo tempo, a história nos permite projetar o futuro e pensar em perspectivas, portanto, a história é viva e dinâmica.

Estamos na semana em que vamos festejar os 200 da independência. As datas comemorativas servem para celebrar o acontecimento, mas também para gerar reflexão sobre seu significado. No caso da independência, podemos aproveitar o momento para entendermos a nossa trajetória e o que somos como país. Podemos também refletir sobre como podemos construir um país mais justo, igualitário, democrático, economicamente desenvolvido e inclusivo.

Infelizmente, parece que o estudo da história não está entre as prioridades em nosso sistema de educação. Formamos gerações de jovens que pouco conhecem a sua História. Nossos cursos de licenciatura e a formação de professores precisam ser repensados, e, sem dúvida, necessitamos de políticas públicas assertivas. Vivenciamos um vazio de boas propostas para a educação.

Ao não valorizarmos a história é provável que os cidadãos deem pouca importância aos 200 anos de independência. Em uma perspectiva positiva, provavelmente, poderíamos estar em um momento de festas, debates, reflexões e construção de propostas para um Brasil mais republicano, em que os interesses públicos se sobreponham aos interesses individuais.

Se não conhecemos a nossa história, dificilmente entenderemos o significado da independência e os projetos de país que estavam em discussão, em 1822. Aliás, temo o desconhecimento de outra data comemorativa que está próxima, o 15 de novembro, data em que celebraremos a Proclamação da República. Devemos celebrar e reafirmar: O Brasil é uma República democrática e isso tem seus significados e impactos.

Estamos em um ano de eleição e a educação não aparece como pauta prioritária nos debates políticos. Isto é um erro que irá atrasar possíveis avanços na área educacional. Pobre é o país que tem carência de políticas públicas. Nossos candidatos precisam esclarecer o que pensam sobre temas essenciais para o futuro do Brasil. Temo a perda de oportunidade de discutir o que é essencial e as “fake news” que podem nos induzir para a perda da capacidade de diferenciar o que é real do que é fantasia.

O desconhecimento da história contribui para o avanço das “fake news”, além disso, temos outro agravante, a desvalorização da memória. Se descuidamos do ensino da história e se não valorizamos a memória histórica, provavelmente, teremos problemas com o futuro. A história tem de ser pensada e em muitos casos, reescrita, mas há perigos de cairmos em narrativas distorcidas de um mundo dual, em que só existem as versões da esquerda e da direita.

Sempre respondi para meus alunos que era preciso viver o presente, mas há uma trajetória que nos trouxe até a atualidade. Somos o que somos porque temos uma história, que precisamos conhecê-la, discuti-la e compreendê-la. De forma alguma podemos esquecê-la. A história é viva, foi construída com ideias, projetos políticos e econômicos, entre outros. Eu acredito que muitos dos meus alunos passaram a valorizar e a estudar história com mais interesse e consciência.

Ao celebrarmos os 200 anos de independência, temos de refletir sobre que país queremos, sobre que país construímos e o que vamos fazer a partir de agora, especialmente, em um ano de eleições. Candidatos precisam propor políticas públicas e irem além do discurso vazio sobre a valorização da educação. O 7 de setembro é uma data comemorativa e simbólica, para pensarmos o Brasil. O país precisa de políticos estadistas e que sejam capazes de superar as fragmentações que geram tensões e um provável futuro nebuloso.

No campo da educação, espero que o país intensifique a inclusão na educação e a equidade, que dê oportunidade para todos, sem discriminação, que tenha uma educação que promova a formação de cidadãos com competências e habilidades para desenvolver atividades profissionais, que tenham políticas de financiamento que possibilite acesso ao ensino superior, que valorize a pesquisa e a ciência, que tenha relevância e impacto social e que tenha nas instituições públicas, pessoas capacitadas, éticas e comprometidas com o bem público e com a formulação de políticas públicas para a educação.

Faço o convite para que possamos estudar mais a nossa história, para que valorizemos a memória, para que possamos, como cidadãos, construir um país melhor para todos os brasileiros. Que os próximos anos sejam de prosperidade e de consolidação da Democracia e da República. Espero que as celebrações dos 200 anos da independência reforce nossa consciência sobre o valor da história.

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Avançamos no isomorfismo no ensino superior?

A palavra isomorfismo nos remete à ideia de “formas idênticas”. No ensino superior, acredito que estamos avançando em um processo em que somos mais semelhantes do que diferentes. No EAD, os modelos são mais isomórficos do que diferentes, os modelos de organização acadêmica e administrativa das IES também se tornaram mais iguais do que diferentes. Aliás, parece que estamos nos aprofundando no processo de terceirização de projetos, serviços e ferramentas pedagógicas.

Penso que uma instituição de ensino superior, ou qualquer instituição de educação, precisa ser o local da criatividade, da inovação, da formação de cidadãos para o mundo, de geração de conhecimento.  Faz muito tempo que li “Creative Schools”, de Ken Robison. Em minha memória, o autor faz críticas ao avanço das padronizações e ao modelo de educação industrial.

Criar, dar sentido a um projeto institucional, ter equipes que pensam a IES do ponto de vista acadêmico, por exemplo, requer tempo, investimento em gente, talento e conhecimento. Faço perguntas para provocar a reflexão: será que estamos nos abdicando de criar e de dar sentido à dinâmica acadêmica para nos aprofundarmos na terceirização? Qual o limite entre criar e terceirizar?

Escrevo a partir de uma percepção da dinâmica do ensino superior. É fato, caro leitor, que estamos caminhando a passos largos para um isomorfismo no ensino superior? Se sim, há perigos à vista, pois o que vai diferenciar nossas IES? Deixamos de criar e de gerar energia com a elaboração de projetos e passamos a gerenciar produtos, ferramentas e conteúdos que outras IES também possuem.

Sim, cada instituição pode dar a “sua cara e identidade” aos produtos e ferramentas, o que exigirá gente qualificada, capacidade de customização e desenho do que será realizado. Neste aspecto, a terceirização exige gestão, equilíbrio e compromisso com a educação e com os talentos.    

Se avançarmos no isomorfismo, no entanto, o coração acadêmico da IES poderá não pulsar com intensidade e podemos nos tornar meros cumpridores de tarefas demandadas por mecanismos tecnológicos. Uma IES precisa ser capaz de criar e de organizar sua dinâmica acadêmica a partir da sua identidade e propósito.

Estamos envolvidos em um diálogo e reflexão de como fazer da melhor forma possível a curricularização da extensão, que deveria ser algo comum e sem dores internas em IES que, naturalmente, possuem projetos de impacto social. Se há projeto de impacto, há evidências, então basta registrar e fortalecer os vínculos com a área acadêmica em IES bem organizadas, o que deveria ser rotina.

Até podemos adquirir ferramentas para registrar e criar evidências para “provarmos” que estamos fazendo curricularização da extensão, mas acredito que a extensão nasce, é concebida, desenvolve-se e gera impacto social a partir da missão e do propósito institucional. Isto é algo que faz parte da essência da IES e, talvez, não deva ser terceirizado.

Quero deixar claro que não sou contra a aquisição de projetos, ferramentas e serviços, desde que façam sentido para a IES, que sejam customizados, no que for possível, e tragam eficiência e eficácia. As IES não precisam de projetos, ferramentas e serviços que sejam apenas mais um penduricalho tecnológico, elementos em que mal sabemos como fazer a gestão, o acompanhamento e a implementação, contribuindo para a perda da criatividade e da inovação.

Acredito que cabe aos gestores estimularem o coração acadêmico da IES, que representa a sua “alma” e faz a instituição ter sucesso. Há muitas IES, por exemplo, que se dedicam a produzir e adquirir o que é coerente com seus propósitos institucionais e segmentos em que atuam. São IES com identidade, propósito, planejamento e gestão de pessoas bem definidos. Provavelmente, estas IES “jogam outro jogo” no mercado educacional, deixando claro para a sociedade o que pretendem e como atuam.  

O problema não está na oferta de ferramentas e serviços, mas na forma como os consumimos e incorporamos em nossas IES, muitas vezes de forma não-estratégica. Em virtude disto, temo um investimento menor em professores, em aprendizado dos estudantes, em elaboração de projetos, em geração de ideias e inovação.

Se nossas instituições avançarem na terceirização, o que poderá acontecer? As IES provavelmente terão que decidir entre buscar um “consumidor” que deseja serviços e ferramentas mais “gourmetizados” (para usar uma palavra que está em evidência) ou mais padronizados. Se optar pelo padronizado, estará disputando um jogo com grandes players educacionais.

O isomorfismo pode gerar a “morte da IES”, no sentido figurado.  A IES poderá se transformar em uma instituição como tantas outras, disputando espaço com todas que são semelhantes. Neste cenário, o preço será uma das poucas estratégias de atratividade para novos alunos. Talvez, o debate não esteja entre terceirizar ou não, mas entre ter identidade e propósito e se tornar semelhante à maioria.

Espero que nossas IES tenham vida, que sejam locais de formação cidadã, de criatividade, de troca de ideias e estímulo aos novos talentos.  Para isto, é preciso ter estratégia, conhecimento, vontade, recursos e propósito educacional. Sugiro que nossas IES planejem a transformação digital com pessoas qualificadas, inovadoras e empoderadas.

PS: enviei o artigo para duas pessoas que gosto e confio, um reitor e um executivo de uma empresa de tecnologia. Recebi os comentários após terminar o texto acima. Por favor, leiam os comentários.

Reitor: “A meu ver estamos terceirizando (…) o que ‘importa’ menos, para fazer dentro de casa o que ‘importa’ mais (…) acho que é importante o artigo fazer essa distinção clara de que algumas coisas talvez sejam melhores se não forem terceirizadas, mas outras precisam ser”. O Reitor defende que é preciso terceirizar o que for preciso e que não desenvolverá tecnologias que já estão disponíveis.

Executivo: “muitas IES (…) não conseguem investir na produção do conteúdo, não conseguem reter professores, não conseguem remunerar além da carga horária destinada ao docente na sala de aula (…) entendo que a terceirização, do que antes era ‘core business’, como algo quase de sobrevivência. Algumas atividades (…) passaram a ser commodity. Não vejo (a terceirização) com maus olhos, desde que o parceiro seja bem escolhido (…) percebo um movimento muito forte dos fornecedores no sentido de entregar (…) ferramentas que permitem a customização (…) se eu montasse uma IES hoje, usaria bons fornecedores que me permitissem a customização. Gastaria meu tempo com temas estratégicos”.       

Os comentários mudaram minha opinião? Sobre o avanço do isomorfismo, não. Continuo preocupado com os avanços dos processos que tornam as IES mais iguais do que diferentes. Sobre a terceirização, ela é bem-vinda, desde que planejada, customizada e avaliada constantemente. É fato, uma IES dificilmente consegue produzir tudo que é necessário para ela funcionar nas áreas acadêmicas e administrativas. As startups educacionais são bem-vindas.

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Por que é preciso fazer a transformação digital da IES?

Escrevi no mês de abril um texto sobre transformação digital (TD) (https://fabiogarciareis.com.br/por-que-fazer-transformacao-digital-e-urgente/). Retorno ao tema, porque é um assunto recorrente em nossos debates e está na pauta dos gestores. Recentemente, em conversa com um reitor, falamos sobre por que uma IES deve investir na TD. Antes de falar do porquê, algo que já comentei no artigo anterior, vou apresentar algumas definições e fazer uma rápida análise de contexto, para facilitar a compreensão desse porquê.

No site da Educase (https://www.educause.edu/focus-areas-and-initiatives/digital-transformation) encontramos boas análises e uma definição que nos leva a entender a TD como “o processo de otimização e transformação das operações, direções estratégicas e propostas de valor das instituições, através de mudanças profundas e coordenadas em cultura, pessoal e tecnologia”. 

A Amazon entende a TD como um “processo que uma organização aplica para integrar tecnologias digitais em todas as áreas de um negócio, modificando fundamentalmente a maneira como ela agrega valor aos clientes” (https://aws.amazon.com/pt/what-is/digital-transformation/). A Starse, como o “processo de mudança ou melhoria de desempenho de um modelo de negócio corporativo, com base na utilização de ferramentas digitais e tecnologias inovadoras, para que ocorra a substituição de práticas exercidas anteriormente, aprimorando ainda mais a experiência do cliente, bem como a obtenção de vantagens competitivas”. (https://www.startse.com/noticia/nova-economia/o-que-e-transformacao-digital-11-dicas-de-como-fazer-isso-muito-bem/). No site da FIA, encontramos a seguinte definição: “é uma mudança de mentalidade que as empresas passam com o objetivo de se tornarem mais modernas e acompanharem os avanços tecnológicos que não param de surgir” (https://fia.com.br/blog/transformacao-digital/). 

As definições são convergentes e apontam semelhanças nos conceitos, com palavras que são chaves para compreender a TD: processo, estratégias para otimizar, competitividade, mudança de cultura e mentalidade, integração das tecnologias, novas tecnológicas e melhoria do desempenho institucional e aprimoramento da experiência do cliente. A TD não é um modismo, é uma necessidade. O tema está presente nos debates desde a década de 1990, todavia, com o avanço das tecnologias da informação e com a pandemia, o debate sobre o tema se intensificou. Há uma tentativa de se compreender seu significado, impacto e importância para as IES.

Os últimos dois anos foram de crises e de aprendizados, que abriram espaço para as oportunidades. O contexto é de escassez de recursos financeiros, dificuldade de captar novos estudantes, concorrência intensa e baseada no preço das mensalidades, desconfiança sobre o valor do ensino superior, novos concorrentes que oferecem formação para o mercado de trabalho com preço e tempo menores, avanço dos negócios da educação, disponibilidade de novas tecnologias, mudança do comportamento e dos valores dos jovens, entre outros fatores que incidem na dinâmica e organização das IES. Num ambiente de incertezas, todos esses fatores estão em um liquidificador, sendo misturados. Imagine o caldo complexo e difícil de descrever, com a mistura de tudo isto. A sensação é de que precisamos fazer mais, com menos recursos e melhor.

Cabe ao gestor zelar pela viabilidade financeira da instituição e pela qualidade da oferta do serviço educacional. Ele, provavelmente, busca melhorar a eficiência institucional através de processos que otimizam o desempenho financeiro, garantam a perenidade da IES, intensifiquem as experiências e a satisfação dos usuários e qualifiquem o modelo acadêmico, porque é isto que, no “final do dia”, garante a superação das crises e o sucesso institucional.

Portanto, tendo como parâmetro esse contexto, porque uma IES precisa fazer TD? Uma resposta possível é: para melhorar a performance dos processos, serviços e projetos acadêmicos e administrativos, com estratégias que utilizem a tecnologia digital, garantam a boa experiência dos usuários e gerem mudanças na cultura institucional. A TD deve proporcionar a otimização da operação institucional ou até ser um dos pilares da mudança do modelo de negócio.

A TD não é uma ação que se faz em um ano. Ela é um processo que requer planejamento e o desenho de um plano. A IES que se propõe a fazer TD precisa estar disposta a mapear as tecnologias disponíveis, a destinar um orçamento para viabilizar essa transformação, a designar um grupo responsável pelo projeto e a ter uma “carta de navegação”, para saber aonde quer chegar.

A TD, ao melhorar os processos e torná-los ágeis na secretaria acadêmica e em outros setores, ao fornecer indicadores de desempenho e possibilitar a análise preditiva das informações institucionais, ao melhorar a experiência do usuário e a aprendizagem dos estudantes e ao ter a tecnologia como instrumento de mudança institucional, indica que desconsiderá-la é navegar por tempestades, considerá-la como estratégia é buscar luz e perspectiva de um futuro provavelmente saudável.   

A TD tem como alicerce o uso das tecnologias, mas não é isto que garante o sucesso da transformação. O que garante o sucesso é a mudança de mentalidade, é a abertura para o novo, é a vontade de priorizar a experiência dos usuários, especialmente dos estudantes.

O gestor de uma IES, ao declarar que prioriza a TD terá que induzir a IES a utilizar as tecnologias digitais nos seus diversos setores, com planejamento. Muito provavelmente, as instituições já possuem ações e processos de TD, mas é importante que as ações estejam conectadas, desenhadas e planejadas, para que não se transformem em “penduricalhos de tecnologias” fragmentadas. 

Espero que os gestores iniciem ou fortaleçam a transformação em diferentes setores da IES, mas façam isso o mais rápido possível. Definitivamente, conhecer e utilizar os recursos tecnológicos digitais indica que a IES quer melhorar seu desempenho acadêmico e administrativo.   

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É preciso ampliar a lupa para compreender o estudante

Nos dias 28 e 29 de julho, participei da reunião do G7 (Rede 7 / Semesp), em São Luís do Maranhão, no Centro Universitário Dom Bosco (UNDB). No encerramento do encontro, ouvimos uma reflexão da reitora e professora Ceres Murad. Ela falou sobre a necessidade de ampliarmos nosso olhar sobre a diversidade, o perfil dos jovens e a necessidade de engajamento social da IES.

Segundo Murad, é preciso que os dirigentes de IES ampliem sua lupa para olhar o mundo de maneira mais ampla. A reitora tem razão. O mundo é outro (afirmação óbvia), mas nem sempre o percebemos, o compreendemos, o aceitamos. Ela defende que precisamos entender os jovens e suas demandas.

É nessa perspectiva que o Semesp propôs o tema do FNESP 2022: É sobre o estudante, sim! Durante o encontro do G7, o reitor da FAESA, Alexandre Theodoro, relatou suas andanças pelo pátio da instituição e seu diálogo com os alunos. Fico feliz em escutar relatos como esse. É preciso que os gestores de IES estejam mais próximos dos estudantes.

Um dono de uma loja de carro precisa entender de carro, um dono de uma loja de pneus precisa entender de pneu, um gestor de uma escola precisa entender de educação e de jovem, ou estou errado? Fico preocupado com a desconexão de visão de mundo entre os jovens e os líderes das IES.

Reconhecer a diversidade supõe respeitar a diferença e ter diretrizes que orientam a comunidade acadêmica. É preciso combater atitudes racistas, homofóbicas, misóginas, entre outras, que não respeitam o outro. É preciso que façamos pesquisas constantes para saber o que os jovens pensam e desejam, em especial após a pior fase da pandemia, pois precisamos entendê-los e cuidar do seu bem-estar. É preciso proporcionar experiências sociais e coletivas para os jovens, em especial, as que tenham engajamento social.

Respeitar a diversidade não significa abandonar a assertividade do processo educativo e a identidade institucional. Cada vez mais nossas IES necessitam estar preparadas para atuarem no “mundo de hoje”. Por isso, recomendo que os gestores ampliem sua lupa para olharem o mundo de forma mais ampla e compreensiva.

Espero que nossas IES sejam mais inclusivas e que exerçam seu papel educativo. A inclusão implica, inclusive, cuidar do bem-estar de nossos estudantes. Gestor que cuida do estudante tem um olhar holístico.

Caros leitores, por favor, não deixem de ler e comentar meus artigos.  

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Há luz e valor no ensino superior

Escrevo o presente texto em São Luís do Maranhão, após participar da reunião do G7, uma das 19 Redes em que o Semesp é responsável pela fundação. O G7 é formado por 9 IES, de 6 Estados. Se contabilizarmos todas as instituições que participam das redes do Semesp, chegamos a 102 IES. Para maiores informações sobre o G7, acesse o site: https://www.g7edu.com.br/

Estou no Centro Universitário Dom Bosco (UNDB), fundada em 2002, mas que tem sua origem em um colégio infantil fundado em 1958, por duas mulheres: Maria Izabel e Maria de Lourdes. Hoje, a instituição continua sob a direção de mulheres educadoras, compromissadas, empáticas e empreendedoras. O texto poderia ser sobre o G7, uma rede com gestores compromissados com o compartilhamento, mas o foco será o compromisso da UNDB com o ensino superior.

Escrevo para compartilhar uma experiência que me surpreendeu. Eu sabia que a UNDB valoriza e investe na qualidade de seus projetos acadêmicos. Penso que há no Brasil IES iguais ou melhores que a UNDB, isto é óbvio, mas estou na instituição e me sinto motivado a escrever sobre o que estou vivenciando. Por que do meu encantamento com a instituição?

O primeiro elemento que quero destacar é o estilo de liderança. Talvez a UNDB seja uma das poucas IES brasileiras que instituiu uma governança profissional e manteve uma gestão familiar. A Reitora, professora Ceres Murad é da segunda geração da família. Há outros parentes em diferentes funções. Ela é qualificada para exercer a gestão e conhece as melhores práticas pedagógicas. É especialista em aprendizagem e metodologias ativas. A Reitora e seu time tem um estilo de liderança assertivo, possui um plano acadêmico e administrativo bem definido, estimula a inovação e mantém um diálogo saudável com os demais líderes institucionais. A IES tem um grupo de pessoas compromissadas com o projeto institucional.

O segundo fator de encantamento se refere ao modelo acadêmico. A UNDB tem um propósito acadêmico bem definido. O foco do projeto institucional está na aprendizagem, nas metodologias ativas, bem desenhas e institucionalizadas, nos projetos sociais de impacto e na cooperação com o setor produtivo. Há uma clara intensão de priorizar o aprendizado do estudante. A instituição possui consistência conceitual em suas ações acadêmicas e vínculos com os empregadores públicos e privados. É interessante ouvir dos gestores que eles não “querem dormir em berço esplêndido”, por isso, a UNDB busca constante reflexão, avaliação e renovação em seu modelo acadêmico.    

O cuidado e o investimento na capacitação do professor é o terceiro fator. O corpo docente da IES é estimulado e necessariamente passa por um processo de capacitação que insere o professor na perspectiva acadêmica da UNDB, ou seja, o docente é convidado a conhecer como o aluno aprende, a utilizar as metodologias ativas de forma correta, a dialogar com o estudante. Há um setor que planeja a capacitação semestral, que é continua e tem coerência com o modelo acadêmico.

Um quarto elemento que é preciso destacar é a perspectiva do grupo de pessoas envolvidas com o projeto. Não é a família que “manda em tudo”. Há times, há pessoas envolvidas, há capacitação das pessoas, há gente compromissada. Empoderar as pessoas é uma “estratégia poderosa”, que indica que gestão, inovação e sucesso institucional são ações coletivas.

Há outros elementos que poderiam ser destacados, como o investimento na infraestrutura, que possui um design coerente com a concepção inovadora da IES como os projetos de curricularização da extensão, que nasceram e existem em função de uma opção da IES e não de uma norma do MEC, os investimentos em tecnologia educativa e o desejo de conhecer as melhores práticas de ensino superior no Brasil e no mundo, para adaptar o que for necessário à identidade e ao propósito da UNDB. 

IES como a UNDB demonstram que há luz no ensino superior do Brasil, que há famílias compromissadas com a educação e com os melhores parâmetros do ensino superior. O sistema de ensino superior no Brasil não pode ter sua organização e dinâmica pautada exclusivamente pela visão de negócio, que é conceito legítimo. Educação supõe compromisso com gente que pensa, que tem comportamento cidadão e ético, que sabe fazer, que produz, que gera emprego e conhecimento, que tem compromisso social, entre outras competências.   

Não tenho dúvida de que há muitas IES no Brasil que representam luz, pois estão compromissadas com os melhores parâmetros do ensino superior. São instituições com histórias e perfis diferentes, mas que estão integradas pelo compromisso com a educação, em seus melhores parâmetros. 

Um exemplo de compromisso com a qualidade está no projeto que o Semesp tem com 11 IES, para construir um modelo de autoavaliação que vai além dos parâmetros do MEC. É isso aí, 11 instituições que querem “subir a régua da qualidade”. Com certeza há outras que também desejam fazer isto.

De toda forma precisamos “descobrir as boas referências de ensino superior do Brasil”. Algo que conversamos durante a reunião do G7: visitamos várias IES no mundo, talvez seja o momento de começarmos a fazer uma internacionalização inversa e convidar os colegas de outros países a virem visitar as nossas “luzes do ensino superior”.

É preciso também que façamos missões internas, para que passemos a conhecer as IES nacionais que possuem bons modelos acadêmicos e administrativos. Há muitas IES brasileiras que merecem ser visitadas, pois dão valor ao que significa ensino superior. Eu, por exemplo, estou envolvido em um projeto de inovação na FAESA, de Vitória, Espírito Santo. A instituição também é luz no ensino superior e possui uma trajetória e projetos semelhantes ao da UNDB.

Um IES dará valor ao ensino superior e será valorizada pela sociedade se seu projeto acadêmico for consistente, se priorizar o aprendizado do estudante, se valorizar o professor, se tiver relevância social e se estiver sintonizada com os melhores parâmetros do ensino superior, independente do seu tamanho e de sua capacidade de investimento financeiro. Cada IES faz o que pode e o que está coerente com sua identidade, mas é preciso ter compromisso com o que há de melhor em nosso setor.        

Faço o convite para que conheçam a UNDB, vale a pena viajar para São Luís do Maranhão e “descobrir está joia do nordeste brasileiro”, assim como vale a pena conhecer todas as IES que são luz em nosso sistema de ensino superior. 

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Políticas públicas em um ano de eleições

O Semesp, cumpre seu papel ao apresentar para o debate o documento “Diretrizes de Políticas Públicas para o Ensino Superior” (https://www.semesp.org.br/wp-content/uploads/2022/05/diretrizes-politicas-publicas-2022-digital.pdf), versão 2022. Nós estamos organizando uma série de debates, com diferentes setores da sociedade: políticos, associações representativas e especialistas no tema, tanto do setor público como do privado.

Para o Semesp é importante que o debate seja representativo e gere críticas, propostas e reflexões.  O documento que publicamos não tem a pretensão de ser definitivo. Sabemos que é um documento em construção e em um ano de eleições, precisamos de diálogo, de construção de consensos e propostas assertivas. 

Políticas públicas para o ensino superior servem para organizar o funcionamento do sistema e para criar dinâmicas e ações que tragam benefícios coletivos. No caso do ensino superior acredito que quem atua no setor privado e público almeja um sistema que permita autonomia com prestação de contas, desburocratização, respeito à identidade institucional, entre outros benefícios para o sistema.

Da mesma forma, penso que almejamos ações que ampliem o acesso, a equidade, a justiça social, o financiamento, a permanência dos estudantes em sua graduação e o emprego.

Neste sentido, suponho que há interesse da sociedade, especialmente, daqueles que atuam nas IES, pelas políticas públicas no âmbito do ensino superior. Estamos em um ano de eleições e vamos votar em deputados, senadores, governadores e para presidente. Portanto, participar dos debates, ter opinião, saber quais são as propostas para o sistema de ensino superior de cada candidato é uma atitude cidadã. É um ato de compromisso com a sociedade. É uma atitude que demonstra preocupação com o bom funcionamento do sistema. 

A pouca participação nos debates e o distanciamento dos projetos e ações que se propõem discutir e elaborar políticas públicas pode indicar desilusão e desesperança.

Políticas públicas não se fazem com uma concepção dualista do mundo, onde existe o bem e o mal, a esquerda ou a direita, o passado e o futuro, entre outras perspectivas antagônicas. Políticas públicas se fazem com conhecimento, com diálogo, com equilíbrio, com capacidade de reflexão, com elaboração de propostas, com respostas às demandas da sociedade, com estudo sobre o tema, com o desenho de um rumo (propor uma perspectiva, metas…), entre outras coisas.

O pior cenário é a ausência de políticas públicas. Uma país não pode navegar sem rumo e não irá melhorar seu sistema de ensino superior, sem diretrizes para o setor. As políticas públicas devem representar um conjunto de diretrizes que conduzem a dinâmica do sistema de ensino superior.

Políticas públicas devem representar os interesses da sociedade, não os interesses compartimentados, embora tenhamos as atuações de grupos de interesse (o que é legitimo).

Em um ano de eleição presidencial se recomenda que os gestores de IES participem dos debates sobre políticas públicas e se coloquem como agente da construção do futuro. Há muita articulação, em nosso setor, para resolver problemas no ”varejo”. Precisamos de políticas públicas com impacto de “atacado”, ou seja, que tenham amplo impacto no sistema.   

Podemos até continuar na luta pela mudança do “artigo X, da lei y”, mas devemos reivindicar mudanças no sistema de ensino superior. O ano eleitoral abre uma janela de oportunidades para as associações que atuam no setor, pois podemos elaborar propostas para melhorar o funcionamento do ensino superior, do Brasil. A diretoria do Semesp atua de forma propositiva, reconhece que é preciso instigar o debate e apresentar propostas assertivas. Em um ano de eleições majoritárias renovamos a esperança de que o sistema de ensino superior funcione de forma desburocratizada e com qualidade, diversidade,  inovação, inclusão, financiamento, valorização dos professores, da ciência, da tecnologia, dos cursos profissionalizantes, da internacionalização, das redes de cooperação, entre outros fatores essenciais para o desenvolvimento econômico e fortalecimento da melhoria de qualidade de vida de todos os cidadãos brasileiros.

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Quem não escuta os estudantes pode se “estrumbicar”

É preciso conhecer as demandas e o perfil dos estudantes, sim. De uma maneira simples, podemos afirmar que as instituições de ensino existem para formar pessoas. Elas possuem identidade, propósito e modelo acadêmico, do outro lado, os estudantes também possuem propósitos, motivações, interesses e são caracterizados por um perfil de comportamento.

O ideal é a conjunção dos propósitos e ideais entre instituições e estudantes. Isso pode acontecer quando uma instituição de ensino superior escuta seus alunos, entende o perfil e suas demandas, consegue atualizar seu modelo acadêmico sem perder a identidade, refaz formas de comunicação, se atualiza e dialoga com os jovens.

A educação supõe princípios de que não podemos abrir mão: ética, cidadania, consistência e qualidade da formação, respeito aos bens coletivos e às normas que organizam a convivência social, entre outros. Por outro lado, as instituições precisam estar atentas para possíveis atualizações e transformações que são necessárias.

Em minha formação como professor salesiano, aprendi uma expressão: “com Dom Bosco e com os tempos”. Dom Bosco, fundador da congregação salesiana foi um educador e nos dá pistas de como uma IES pode se relacionar com os jovens. Para ele, é preciso que nos mantenhamos atualizados para que possamos dar respostas às demandas dos jovens, em cada contexto histórico.

Dom Bosco não iria se “estrumbicar” em pleno 2022. Ele saberia manter a escola atualizada, pois foi um especialista em jovens. Faço algumas perguntas, pois gostaria de dialogar com o leitor: de que forma estamos dialogando com os jovens em nossas IES? Conhecemos seus propósitos e interesses? Nossos modelos acadêmicos estão atualizados e correspondem às demandas da atualidade?  

Li uma pesquisa da Anthology Advancing Knowedge, intitulada “Closing the gap to create the ideal learning experience”, realizada com 2.725 estudantes e 2.572 líderes de IES públicas e privadas, que representam 10 países. Pesquisas como essa precisam se tornar comuns em nosso ambiente. É preciso escutar os estudantes, sempre. 

Para mais de 80% dos estudantes, não há problema em terem experiências online em seu processo de formação. Destes, 25% afirmam que poderiam ter aulas unicamente online, 16% preferem cursos online, com algum tipo de encontro, 22% gostariam de cursos com momentos online e presenciais e 20% gostariam de um mix, entre ambos.  18% preferem cursos presenciais.

Na perspectiva dos gestores, 12% gostariam de organizar a IES para uma oferta exclusivamente online, 9% preferem o online com algum tipo de encontro presencial, 25% preferem uma oferta que tenha o online e o presencial, 38% uma oferta que seja um mix e 15% preferem cursos presenciais.

Pesquisas realizadas pelo Instituto Semesp em 2020 e 2021 indicaram que não há problema, na perspectiva dos estudantes, de frequentarem disciplinas online e cursos híbridos. Quando olhamos apenas a América Latina, segundo a pesquisa da Anthology, a perspectiva dos estudantes em relação à oferta de cursos que reúne o online com o presencial (híbrido) é preponderante, chega a 90%. No caso dos gestores, também é de 90%, com predomínio da preferência de cursos híbridos (38%).

Há espaço para IES que querem manter uma oferta exclusivamente presencial, mas para este perfil de instituição, provavelmente, o público é reduzido e possivelmente com um poder aquisitivo maior. De toda forma, a pesquisa aponta para a necessidade de entender as demandas dos estudantes.

É um risco manter nossas IES organizadas pela oferta, em que os gestores decidem o que oferecer e da forma como vão oferecer. Há exemplos de instituições de ensino que perderam o “bonde da história” e entram em crise, que tiveram que ser vendidas ou que simplesmente “desapareceram do mapa”. IES competitivas são organizadas pela demanda, respondem aos desafios da sociedade, se mantém atendas às mudanças culturais, tecnológicas, sociais e políticas e a partir daí conseguem se antecipar a eventuais turbulências.

O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou recentemente, a minuta “Diretrizes nacionais gerais para o desenvolvimento do processo híbrido de ensino e aprendizagem”. As diretrizes são bem-vindas, pois estão sintonizadas com diversas pesquisas e relatórios que apontam que o online e o híbrido são demandados pelos estudantes.

Obviamente, não é qualquer modelo online ou híbrido. Há um risco dos gestores das IES errarem no modelo, com propostas pedagógicas que não despertam o engajamento e o desejo do aprendizado ou que oferecem pouco suporte para o sucesso dos estudantes.

Se uma IES pretende reforçar, aperfeiçoar ou transformar seu modelo acadêmico ouça o estudante, pesquise o tema para obter mais informação e conhecimento e faça um benchmarking com IES que já obtiveram sucesso.

O futuro de uma IES estará cada vez mais atrelado a sua capacidade de dialogar com a sociedade, especialmente com o estudante. Ele não é somente um “pagador de boleto” que gera resultados financeiros para a instituição. Ele é um cliente e um cidadão, que consome um serviço, que espera ser tratado com respeito, que tem propósito, sonho e opinião. É muito provável que ele espere da instituição onde estuda ser ouvido, ter voz e ter experiências de aprendizado significativas.

Há incertezas sobre o futuro do ensino superior e uma IES não pode se dar o luxo de errar na comunicação com os estudantes e se guiar apenas pela oferta e não pela demanda e pelos propósitos dos estudantes. Nesse caso, o risco de se “estrumbicar” é grande. E por falar em escutar o estudante, o Semesp irá organizar o 24º. FNESP, com o tema “É sobre o estudante, sim! (https://www.semesp.org.br/fnesp/). Vou escrever textos sobre o tema, espero que leiam e que participem do Fnesp.

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Há uma perda de valor do ensino superior?

Somos um setor que presta serviços de educação e tem como “causa maior” formar pessoas com senso de cidadania e ética, pessoas preparadas para atuar profissionalmente e com as competências esperadas pelo setor produtivo, com a capacidade de inovar e produzir ciência e novos conhecimentos. O ensino superior forma para a vida, para o trabalho e para o desenvolvimento econômico.

O nosso maior aliado na formação das pessoas é o professor. É ele que deve engajar o estudante em seu processo de aprendizado e manter um diálogo constante com os alunos. É o professor que deve ter conhecimento e método para fomentar o aprendizado e encantar os alunos. Parece ser óbvia a afirmação, mas é verdade: boas escolas possuem bons professores. Ser um bom professor significa estar aberto ao aprendizado constante.  

Bons sistemas de ensino superior pelo mundo funcionam pautados em vários fatores: confiança; relacionamento ético entre as IES; cumprimento literal das regras do jogo; busca continua pela qualidade; foco no aprendizado; valorização dos professores; competitividade internacional em políticas públicas e Estado; entre outros parâmetros.

A palavra “bons” pode ter uma conotação subjetiva, mas há evidências de que os sistemas bem-organizados possuem os princípios indicados acima. Podemos citar países que já foram visitados pelo Semesp (Austrália, Finlândia, Dinamarca, Coreia do Sul, Singapura, Canadá, entre outros) como referências de bons sistemas.

Tenho notado um aumento de artigos na imprensa internacional sobre a perda do valor do ensino superior. Há uma percepção de que os jovens tendem a deixar de ter interesse em fazer uma faculdade. São vários fatores apontados pelos analistas: custo, falta de financiamento, medos e incertezas sobre o futuro, problemas de saúde mental, busca por outras opções de formação, horários pouco flexíveis, modelo acadêmicos rígidos, convencionais e ultrapassados, dúvidas sobre o que estudar e se haverá trabalho após o térmico da graduação, entre outros.

Nos Estados Unidos, há pesquisas que indicam um aumento em relação à dúvida sobre fazer ou não uma graduação. Há uma perda de confiança no valor do ensino superior. No Brasil, as matrículas do ensino superior presencial vêm caindo nos últimos. O crescimento do sistema é sustentando pelas matrículas no EAD, modalidade voltada para uma população mais adulta e que já trabalha.

A minha hipótese é que, sim, o ensino superior está perdendo valor na percepção dos mais jovens. Além dos fatores apontados acima, é preciso considerar que os modelos de organização administrativa e acadêmica das instituições de ensino superior impactam nesta percepção do valor. De um lado, temos modelos que valorizam o professor e o aprendizado dos estudantes, do outro, modelos exageradamente convencionais e distantes dos melhores parâmetros do ensino superior. Estes, provavelmente, vão despertar pouco interesse em relação ao ensino superior.   

O sistema de ensino superior deixa de ser bom quando há interesses de IES que se sobrepõem à ética, à confiança e ao compromisso com as normas. Talvez, o maior problema do Brasil em relação à perda do valor seja a nossa “inovação limitada” pautada em ajustes e reformas, não na ousadia e na transformação rumo aos melhores parâmetros do ensino superior.

Um sistema de educação tende a se fragilizar se a lógica do mercado prevalecer e for preponderante, já que esta estratégia demanda a geração de altos retornos financeiros para o investidor. É inquestionável o direito ao lucro, mas bons sistemas educacionais não se constroem com preponderância desta lógica, basta ver a literatura e as evidências de outros países.

Um sistema se torna bom quando as IES fomentam o aprendizado, valorizam os professores, investem em qualidade, inovação e pesquisa e possuem relevância para a sociedade e para o setor produtivo, além de ter valor social, econômico e político para o desenvolvimento do país.

Bons sistemas de ensino superior são organizados com políticas públicas que atendam as demandas da sociedade. Um sistema de educação precisa gerar empregos, conhecimento, justiça e equidade, entre outros valores sociais e coletivos.

A educação é um bem social. As IES devem existir para gerar benefícios reais e tangíveis. O futuro de nossas IES está atrelado ao bom funcionamento do sistema e ao compromisso com a ética e os melhores princípios do ensino superior.

Caro gestor, organize sua IES para maximizar os ganhos sociais e a formação dos estudantes, consequentemente haverá a maximização de outros benefícios, inclusive, o financeiro. 

Sugiro a leitura de dois artigos que escrevi sobre crises, formas de prosperar e o valor do ensino superior:

https://revistaensinosuperior.com.br/ensino-superior-prosperar/
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As prioridades refletem o contexto do ensino superior

Há temas no ensino superior que são tratados como prioridade, e eles refletem um determinado contexto. Houve um momento em que a gestão foi preponderante. Este assunto coincide com a expansão das matrículas e do número de IES, o que exigiu uma discussão mais profunda sobre capacidade de gestão e planejamento, entre outros tópicos característicos da administração. Nossas IES passaram a contratar executivos de outros setores e a investir na formação de seu pessoal.

            A expansão do FIES contribuiu com este processo e colaborou para o avanço do mercado educacional. O sistema se tornou menos diversificado e começaram a surgir modelos padronizados. Graças a isto, hoje, infelizmente, as IES parecem ser mais iguais do que diferentes.

            A tendência de homogeneização, a consolidação do mercado e a crise do financiamento público fizeram com que os temas da inovação, do professor, do empreendedorismo, entre outros, passassem a ser preponderantes em nossos debates. E as IES passaram a ser instigadas a realizar transformação digital.

            Hoje, os temas da aprendizagem, da experiência dos estudantes no ambiente das IES, do bem-estar e das competências digitais dos professores são os que preponderam. É preciso, de fato, priorizar o aprendizado dos estudantes.

            Em função da dinâmica do sistema de ensino superior, dos novos certificadores e do avanço do mercado educacional, temas como o valor do ensino superior, as redes de cooperação e a relevância social da IES também precisam estar entre as prioridades dos gestores.

            Apresento então dois artigos que buscam refletir o momento que estamos vivenciando atualmente: o valor do ensino superior e a necessidade de valorizarmos as redes de cooperação. 

            Boa leitura!

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De novo, sobre Redes de Cooperação

Se há algo por que sempre agradeço é a oportunidade de coordenar diferentes redes de cooperação. Sinto que é um privilégio porque tenho a chance de me manter conectado com várias pessoas, de conhecer experiências institucionais diversas e de ter a percepção do que dá certo ou errado em uma rede.

Estar em uma rede significa se conectar com pessoas e conversar semanalmente com gente que toma as decisões institucionais ou que participa destas. É trocar experiências, falar sobre soluções e problemas, compartilhar, aprender e ensinar, inspirar-se no outro. É manter uma relação profissional saudável e olhar o mundo além da instituição. É a oportunidade de errar menos graças ao contato com um colega ou a consulta com alguém que tem experiências a compartilhar.  

Estar em redes é resolver problemas de forma dialogada, a partir das experiências do outro. Já vi instituições de ensino resolverem problemas de plano de carreira, solucionarem problemas de TI e melhorarem processos de captação e retenção. Já testemunhei instituições de ensino aprimorarem o processo de formação de professores, suas análises e os resultados financeiros. Já acompanhei instituições de ensino repensando suas estratégias, compartilhando cursos de pós-graduação e promovendo a mobilidade de estudantes. Nesses anos de envolvimento com redes de cooperação, já vi tanta coisa boa que dá para ficar horas em uma roda de amigos contanto boas histórias.

Estar conectado em redes é conhecer as melhores formas de organização e dinâmica. É saber como se organiza uma rede e que cronograma, planejamento, compartilhamento, confiança e compromisso são palavras com significados importantes que precisam ser vivenciadas pelos seus participantes. Uma rede se constrói com assertividade, “ganha-ganha”, diálogo, perseverança e aprendizado com os inevitáveis erros.

Redes se consolidam com o tempo e, dificilmente, os resultados são imediatos. É preciso ter paciência e acreditar no processo de consolidação da mesma. Se uma rede não está dando certo, o gestor descontente tem que se perguntar: o que eu posso fazer para a minha rede avançar? Não se pode criticar uma rede sem propor soluções e alternativas para o problema percebido. Não se pode criticar uma rede sem participar de sua dinâmica. Entre outros fatores, uma rede não dá certo (sei que já escrevi sobre isso) quando:

– O gestor não participa, já que a rede não está em sua agenda de prioridades;
            – Não há uma agenda propositiva de troca de experiências. É preciso buscar convergências e ter vontade de dialogar sobre soluções e problemas institucionais;
            – Quando há mais discurso do que ações concretas. Se uma IES está em uma rede, aproveite, seja intenso.

Estou envolvido com as Redes de Cooperação do Semesp (já somos 19 redes que congregam mais de 100 IES); com a Metared (Rede ibero-americana de TI e transformação digital com mais de 800 IES públicas e privadas);  com a Realculp (Rede de Associações Nacionais da Iniciativa Privada da América Latina e Caribe com cerca 600 IES privadas); com o Consórcio Sthem Brasil (rede de inovação acadêmica com 68 IES públicas e privadas); e com a ACL (Rede de líderes de Consórcio dos Estados Unidos com mais de 50 IES públicas e privadas).

Meus caros, estou envolvido com um “mundo de redes de cooperação” e gosto muito disso. Uma das minhas missões na vida profissional talvez seja conectar pessoas e IES na busca de soluções institucionais e de melhores parâmetros para o ensino superior.

No Semesp, temos uma equipe para “cuidar do projeto de redes” (eu, Diego, Cleia e Silmara). Se as redes dão certo é porque os gestores das IES acreditam no projeto, temos gente compromissada com as redes e porque elas são uma das prioridades para o Semesp, que investe sem reservas no projeto.

Sempre me pergunto: por que a pessoa ou a IES A ou B não acredita ou não está envolvida em alguma rede de cooperação? Respondo com alguns porquês: porque não entendeu a importância da cooperação ou ainda não percebeu o benefício da rede; porque quer respostas e resultados rápidos ou não participa de forma efetiva. Tenho uma dúvida: será que ainda tem gente que nega o valor das redes de cooperação? Espero que não.