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A crise das IES de pequeno porte pode se intensificar em 2024

No Brasil há 2574 IES, destas, 82.5% são de pequeno porte, com até 3000 alunos. Os dados são do Mapa do Ensino Superior 2023 (Censo 2021). A crise que rodeia muitas dessas IES pode se intensificar pelos seguintes motivos: a) a concorrência por matrículas aumentou, especialmente, com o avanço da oferta de EAD; b) os custos de manutenção dos serviços administrativos e acadêmicos aumentam ano a ano, através dos contratos com empresas que disponibilizam bibliotecas virtuais, software e outros serviços, como as recorrentes (luz, água, manutenção predial, seguro…); c) o investimento em tecnologia tende a ser maior em 2024, em um contexto de transformação digital e uso intensivo de inteligência artificial, que requer novas tecnologias, laboratórios e equipamentos que qualificam o aprendizado dos estudantes; d) o investimento em pessoal, na profissionalização da gestão, no planejamento e no uso do big date aumenta ano a ano, já que são investimentos que melhoram a competitividade da IES, a eficiência e a eficácia institucional.

Como uma IES de pequeno porte pode enfrentar os desafios do aumento da concorrência, da oferta de cursos de EAD com mensalidades baixas, do aumento dos custos de manutenção dos serviços educacionais, do custo em tecnologia e da necessidade de investir em pessoas e qualificação da gestão? Essa pergunta e o próprio título do texto poderiam ser mais amplos e englobar um número maior de IES médias e até grandes, com dificuldades de sustentabilidade financeira. Estamos abordando um contexto com mais de 2 mil IES (82.5% do sistema de ensino superior) e, é óbvio, que há IES que não enfrentam as crises elencadas acima ou que conseguem mitigá-las. 

Os problemas apontados acima são reais e a própria sobrevivência das instituições em crise pode ser colocada em dúvida se permanecer entre os seus gestores a atitude que mantém o isolamento da IES, o pouco diálogo com os outros gestores, a indisposição de aprender com as boas práticas, a indisposição de participar de uma agenda organizada de colaboração.

Práticas arraigadas em que o gestor conduz a IES em uma jornada solitária é um erro de gestão que custa tempo para resolver um problema para o qual já há solução e um desperdício de recursos financeiros, já que a cooperação pode proporcionar: a) ações e projetos em que os envolvidos são beneficiados; b) possibilidade de renegociação de contratos com empresas fornecedoras de produtos educacionais; c) diálogo permanente entre os gestores em que um se torna consultor do outro; d) de possibilidade de compra coletiva, entre outros benefícios que mitigam as crises, geram economias, criam novas possibilidades de captação e recursos e colocam a IES em um processo de aprendizado.

Uma IES de pequeno porte tem dificuldades de concorrer com outra que tenha mais recursos financeiros, acesso à tecnologia e recursos humanos, por exemplo. A IES não precisa necessariamente manter investimentos próprios em contabilidade, em contratação de seguros, em compras de licença de software, em EAD, entre outros, de forma isolada.

De modo geral, os gestores das IES ainda precisam avançar nos processos de cooperação e provavelmente, estão enfrentando desafios e crises que poderiam ser contornados através das sinergias. Há iniciativas louváveis no ensino superior brasileiro, como o Consórcio Sthem Brasil e as Redes de Cooperação do Semesp, todavia, o conjunto das IES brasileiras precisa assumir um nível de cooperação mais intenso, mais pragmático, que gere resultados perceptíveis e qualidade.

Para isso acontecer, é preciso atitude, compromisso, vontade política da IES, disposição para o aprendizado institucional. Há gestores dispostos a colaborar e estão compromissados com as redes de cooperação, há os que estão em uma espécie de limbo, pois ainda não perceberem a relevância da rede ou não a deram a devida importância. O gestor gasta seu tempo e os recursos financeiros das IES com problemas que poderiam de forma ágil e econômica serem resolvidos através da cooperação.

A cooperação é bem-vinda e necessária para as IES de pequeno porte. Provavelmente, há situações em que a cooperação é uma alternativa para manter o funcionamento da instituição. Planejar integrações de áreas ou sinergias institucionais é uma solução que precisa estar na pauta dos gestores das IES, em 2024.

Todavia, reafirmo, ela é bem-vinda para todas as IES, independente do seu tamanho e perfil. Ela é bem-vinda para as instituições que acreditam que o diálogo sistematizado traz benefícios, gera sinergia, aprendizados, prestígio, qualidade educacional e melhora a sustentabilidade financeira.

Faço dois convites para os gestores em 2024: 1- participem, intensifiquem sua dedicação, disponibilizem tempo e assumam o compromisso com as redes de cooperação; 2- transformem o desejo da cooperação em ação, em atitude, em projetos que institucionalizem a cultura da rede.

Espero que em 2024 a rede de cooperação deixe de ser algo “legal” e “uma boa ideia” para ser algo concreto para aqueles gestores que ainda estão em dúvida sobre o poder da rede.  Enfrentar as demandas e as crises de forma coletiva é melhor do que trabalhar de forma isolada.     

Diretor de Inovação e Redes de Cooperação do Semesp, Presidente do Consórcio Sthem Brasil, Secretário Executivo da MetaRed TIC Brasil, Colaborador da FAESA (Vitória – ES) em temas da gestão acadêmica.