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Negar o ChatGPT ou outra inteligência artificial (IA) é estagnação.

Ana Valéria Reis*

                     Fábio Reis**

                                Carlos Zacharias***

O ChatGPT tem causado muita controvérsia. As discussões são bem-vindas e necessárias, porque é algo novo, que impacta e provavelmente mudará a prática e as estratégias dos professores. As reações são diversas no mundo da educação. Há instituições que indicam a proibição do uso desta IA, há as que querem utilizá-la de forma adequada, há as que não sabem o que fazer e talvez existam aquelas que ainda nem iniciaram uma reflexão.

Em nossa opinião é preciso ampliar a discussão sobre o uso da IA, refletir sobre suas questões éticas e sobre as formas de seu uso, que deve ser em benefício da sociedade. Proibições e eventuais restrições requerem ponderações. A IA pode ser um instrumento que fere o direito à proteção de dados, fragiliza a privacidade das informações pessoais e gera discussões sobre direitos autorais, entre outros pontos polêmicos. É preciso considerar também que ter o domínio sobre a IA aumenta o poder das organizações e dos países que desenvolvem esta tecnologia.    

A IA já está em diversas dimensões da nossa vida, é inevitável utilizá-la. No caso das IES, proibir o uso do ChatGPT é como proibir o uso da calculadora nos cálculos realizados pelos estudantes no ensino superior, o celular na consulta às informações ou o acesso a aplicativos educativos, a consulta de informações nas plataformas de busca, entre outras proibições que reagem à inovação, em momentos de surgimento das novas tecnologias.

No caso das IES, urge a elaboração de planos institucionais, diretrizes e suporte para que os professores estejam preparados para utilizar a IA em benefício do aprendizado, da inserção da IES na educação digital e do uso da tecnologia como ferramenta pedagógica. O que a IES não deveria fazer é deixar as coisas soltas. Orientar, não é impor, é indicar caminhos e buscar convergências. Uma IES que não usa IA provavelmente desconhece os princípios da transformação digital, por isso, tende a ser anacrônica e desconectada com a atualidade.

Em relação aos professores, o caminho é a disposição para o aprendizado, é a capacidade de pensar além do ChatGPT, já que o professor tem capacidade de refletir e discutir as respostas do Chat. O professor pode propor debates, fazer conexões entre os conceitos e as proposições sugeridas pela IA. Nesse sentido, a formação dos professores nos cursos de licenciatura precisa mudar rapidamente e de forma efetiva. Professores universitários que não conhecem IA, que não usam as tecnologias, que reagem à inovação, provavelmente, ficarão em alguns casos sem aulas atribuídas, em outros, viverão um choque de geração diante dos estudantes digitais.

 Estamos vivenciando um tempo de transição: de um lado professores preparados pedagogicamente e que usam a tecnologia para instigar o aprendizado, do outro, professores que exerceram um papel relevante e que formaram gerações de profissionais, mas que, por uma série de motivos, não conseguem se adaptar ao atual contexto ou não querem se adaptar por convicções pessoais.

O professor não desaparecerá com o avanço da IA. Porém, se ele reagir de forma retrógrada e não se dispuser ao aprendizado, poderá ficar estagnado e ser substituído. Nessa perspectiva, as licenciaturas estão em uma sinuca de bico: ou mudam ou passarão a ser responsáveis pela formação de um professor desconectado com a realidade, portanto, provavelmente, sem emprego.

As discussões sobre IA precisam ser construtivas. O desafio nos próximos meses será preparar as IES e os professores para que aproveitem os benefícios das novas tecnologias. Todavia, é preciso deixar claro: o ChatGPT ainda se equivoca e, se mal orientado, pode distorcer os fatos ou emitir informações falsas, portanto, deve ser monitorado pelos docentes ao mesmo tempo em que pode ser considerado como um aliado do professor no processo de ensino-aprendizado. Mesmo que a IA não errasse, ela não substitui o bom professor.  Se as IES não estiverem preparadas para o uso da IA, elas vão formar pessoas para qual sociedade e para que tipo de mercado?

Há um perigo real de estagnação das IES, caso não tenham um plano para o uso do ChatGPT, entre outras tecnologias, e de preparação dos professores. Isto pode gerar dispersão das ações, reações inadequadas e fragilidade institucional no uso da IA. Esperamos que nada disso aconteça. As IES são instituições de educação e não podem reagir de forma duvidosa à cultura digital ou negativa às oportunidades advindas da IA.

* – Consultora Educacional

** – Atua no Semesp, Consórcio Sthem Brasil, na MetaREd Brasil

*** – Professor da UNESP / Guaratinguetá