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O PAPEL DO INFLUENCIADOR NO MARKETING DAS IES*

Instituto Qualibest divulga pesquisas sobre o papel dos influenciadores na decisão de consumo das pessoas. Até pouco tempo, o assunto não despertava minha atenção. Como tenho participado de diversas reuniões, compartilho algumas ideias, mesmo não sendo um especialista em marketing educacional. Corro o risco de simplificar uma discussão que merece mais reflexão. Entretanto, acredito que é preciso discutir o tema.

Em uma recente reunião, uma IES apresentou uma estratégia de marketing para aumentar a visibilidade via mídias sociais. Naquele momento, o foco era a contratação do João L. Pedrosa, do BBB21. Houve, da minha parte, uma reação de estranheza em relação à contratação do ex-BBB. Perguntei se o que o contratado representava estava alinhado com a proposta educacional da IES. O mantenedor da instituição argumentou que sim e que era preciso chamar atenção dos jovens e disputar espaços nas mídias sociais.

Recentemente, um reitor comentou que fez um anúncio assertivo em um programa de TV. De forma imediata, a instituição recebeu 50 contatos de WhatsApp em 30 segundos.  Ele argumenta que, para esse tipo de estratégia, a instituição precisa estar com “a máquina de captação redonda”.

A Universidade Estácio contratou a vencedora do BBB2, Juliette Freire. Ela fará a campanha “Faça seu Brilho” para o 2º. semestre de 2021. O convite será para que o aluno realize seu sonho na instituição. O Gil do Vigor foi contratado pela Ânima Educação com o propósito de divulgar o ecossistema inovador da instituição.

Há pesquisas que indicam que mais de 70% das pessoas consome um produto em função das indicações de um influenciador. É inegável o papel dos influenciadores digitais. É uma prática que tem se intensificado no ensino superior. A estratégia de contratar um influenciador requer uma boa concepção de campanha, abertura para novas abordagens, coragem para refazer estratégias e realocação de recursos para a captação de novos estudantes.

É consenso que as estratégias de captação de estudantes e as campanhas de vestibular precisam de novos direcionamentos. O exemplo da Nubank é significativo. O banco digital resolveu contratar a cantora Anitta para o Conselho de Administração. O CEO do banco, David Velez, argumenta que ela trará para o banco conhecimento do comportamento dos consumidores. Sim, ela trará diversidade e comunicação com os jovens. A presença da Anitta gerou polêmicas, mas ela tem uma visão do mundo digital e pode rejuvenescer as decisões do conselho de um banco que nasceu para romper os paradigmas convencionais.

Há IES que provavelmente enfrentam ou vão enfrentar um conflito de gerações entre seus gestores e os jovens interessados em acessar o ensino superior. Os jovens frequentam os espaços virtuais, se comunicam de forma diferente e possuem valores que podem estar desalinhados com a percepção dos reitores e mantenedores. É preciso ficar atento aos possíveis desalinhamentos de percepções e direcionamentos institucionais.

Se de um lado a contratação de um influenciador é positiva para chamar atenção e gerar leads, do outro, pode gerar polêmicas em função da ausência de identidade com a IES e com a sua proposta acadêmica. O fato é que as IES, entre tantas outras organizações, estão disputando a atenção dos jovens, há anos, em um ambiente farto de informações.

Talvez esteja aí a vantagem de um influenciador: a IES terá um aumento dos leads, ampliará o olhar para a instituição e chamará atenção dos jovens interessados no ensino superior. O desafio é ser percebido em um ambiente em que diversas IES anunciam que possuem qualidade e boa infraestrutura, que são bem avaliadas pelo MEC, entre outros anúncios comuns.

Acredito que uma IES reconhecida pela sociedade como relevante, sólida em sua proposta acadêmica e que tenha prestígio com os empregadores pode se abster de contratar um influenciador. Há ainda as IES com nichos bem definidos que talvez não precisem de influenciadores. Tenho uma hipótese: quando uma IES não tem diferenciais percebidos e tangíveis pela sociedade e atua em ambiente de grande concorrência, ela, provavelmente, precisará de um influenciador para chamar atenção dos jovens, gerar leads e aumentar as matrículas.

A contratação de um influenciador poderá ser bem-vinda quando a IES disputa um mercado amplo, como no caso do EAD, por exemplo, ou quando atua em regiões com concorrência acirrada e não tem diferenciais percebidos e assimilados pela sociedade.

É preciso chamar atenção para um fato: não há influenciador que dê conta de aumentar matricula de uma IES que não tem em seu DNA a educação como propósito.

Uma IES pode gastar “rios de dinheiro”, mas as matriculas não irão se manter sólidas se ela não tiver relevância educacional. A imagem não é tudo, ela pode ser líquida e evaporar nos primeiros desconfortos. Quem não tem proposta acadêmica séria não se sustenta.

De qualquer forma, todas as IES precisam acompanhar os impactos gerados pela contração dos influenciadores, avaliar os resultados e perceber as tendências do marketing educacional.

*Fábio Reis, diretor de Inovação e Redes do Semesp.

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O ensino superior em transformação

Desconheço IES inovadoras que tenham abolido conceitos e teorias do processo de ensino e aprendizagem. Às vezes acontecem distorções, pois há pessoas que fazem confusão ao acreditarem que a inovação acadêmica representa o enfraquecimento da formação teórica.  A inovação disruptiva em uma instituição de ensino não poderá romper com os princípios do ensino superior, especialmente, com a solidez da formação das pessoas.   

 Há instituições que eliminaram disciplinas convencionais,  porém, os estudantes continuam dependendo do domínio da língua nativa, da matemática ou da física, por exemplo. Inovar, não é acabar com matemática ou português, é saber como incluí-las em um currículo desafiador. A discussão não é sobre o fim ou a permanência das disciplinas. É sobre a estratégia que trará melhor impacto no aprendizado.

Transformar o ensino superior não significa abolir conhecimentos. Ciência e tecnologia provêm do ensino, da aprendizagem, da pesquisa e da extensão. Quem tem dificuldades com a língua portuguesa terá problemas com a escrita e com a comunicação. O novo não pode ser vazio e líquido. Ensino superior exige formação sólida. A inovação deve ser resultado de reflexão e conhecimento sobre o que se quer inovar e por quê.  

As IES precisam priorizar a formação por competências, precisam integrar o conhecimento com projetos, não com disciplinas estanques. A educação necessita instigar a criatividade, o sonho, o empreendedorismo, a compreensão do mundo, a cidadania, o respeito à diversidade e romper com o convencionalismo, inclusive, das avaliações que estimulam as decorebas, não o aprendizado.

As IES necessitam enfrentar o desafio de oferecerem uma formação integral. Aliás, nos primeiros anos das graduações acredito que os estudantes devem descobrir o mundo do ensino superior, as competências das soft skills e serem estimulados a buscar o conhecimento como protagonistas do aprendizado e a desenvolver projetos.

Posteriormente, os estudantes poderiam começar a se vincular a uma determinada área do conhecimento: engenharia, medicina, direito ou história, entre outros. As IES que não fazem isso justificam que está na cultura do estudante o desejo por disciplinas específicas, logo nos primeiros semestres.  Eu diria que é uma cultura inventada pelas próprias IES. Há uma convenção de organização do currículo e poucos ousam fazer diferente.

Não se pode pressentir a morte do ensino superior, mas que ele é e será transformado continuamente. Há IES com maior capacidade de transformação, há IES mais lentas e, provavelmente e há aquelas que falam sobre como mudar, mas que continuam vendo o mundo das janelas dos seus gestores. A sociedade é dinâmica, os comportamentos mudam, as tecnologias mudam e as instituições precisam se adaptar.

 Conheço gestores que refizeram a organização curricular dos cursos de graduação e dos planos de ensino das disciplinas, porque constataram repetições ou temas que não estavam alinhados com o perfil dos egressos.

Há currículos esdrúxulos, há tópicos em nossos planos de ensino que talvez não façam sentido para a formação dos nossos estudantes, mas é preciso ter sabedoria para fazer escolhas. Não se pode excluir o que é formação para a vida, para as competências, para o que é base para a ciência, para a tecnologia e para a formação integral.     

As IES precisam buscar novos parâmetros de qualidade e novos paradigmas para o ensino superior. Não dá para continuarmos com o risco do modelo de educação da era industrial e de oferecermos um diploma com pouco valor. Pode até ser uma opção “destruir o atual paradigma da IES para reconstruí-lo”, mas a reconstrução, provavelmente, será feita com base na  história da IES.  

Espero que os gestores façam inovação, que busquem a transformação de forma contínua e que tenham maturidade para não caírem no dilema de “vida ou morte” (faça isso ou morrerá). As boas IES oferecem formação sólida, pois sabem que o diploma tem de agregar valor.