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COMO UMA REDE DE COOPERAÇÃO PODE TER BONS RESULTADOS?

Em 2016, o Semesp criou o projeto Redes de Cooperação. Hoje são 13 redes que reúnem 75 IES. Há diferentes níveis de maturidade das redes e de engajamento das pessoas, o que é comum em um processo de fortalecimento da cultura de cooperação.

Uma rede de cooperação tem bons resultados (troca de informações acompanhada por mudanças estratégicas, melhoria da eficiência institucional, redução de custos institucionais, entre outros) quando há confiança entre os participantes e compromisso com os seus projetos.

De modo geral, as redes do Semesp estão bem estruturadas. Todavia, hoje quero destacar a Rede 7, que se autodenominou G7 (quando foi organizada eram sete IES, de seis estados, hoje, são nove IES, de sete estados). Quais são os fatores de sucesso do G7?

  • Confiança entre os gestores. Planilhas financeiras, estratégias administrativas e mudanças acadêmicas são abertamente discutidas. Não há temor em apresentar números estratégicos;
  • Compromisso dos gestores das IES da rede com os resultados e assiduidade (em casa de falta sem justificativa, há uma multa). Eles sabem que a participação na rede precisa fazer sentido e trazer resultados. As reuniões são semanais;
  • Foi criado a figura do coordenador da rede (um gestor de uma IES participante), que implementou uma metodologia de trabalho (organização e funcionamento da reunião);
  • Discussão prévia da pauta, que é consensuada. Os tópicos da pauta são previamente definidos e durante a semana são refinados para uma melhor apresentação;
  • Busca de cooperação que traga redução de custos e melhoria da performance acadêmica e administrativa;
  • Busca de profissionalização da gestão da rede. Foi contratada uma pessoa para gerenciar a pauta e, especialmente, dar andamento às decisões tomadas na reunião. Projetos conversados e consensuados possuem continuidade;
  • Busca continua de oportunidades de cooperação.

O G7 tem uma “vida própria”, ou seja, uma agenda independente do Semesp, o que nos deixa contentes por demonstrar a maturidade da rede. A Rede Pioneira² é outra referência de boas práticas que também ganhou autonomia em sua dinâmica.

A presidente do Semesp, professora Lúcia Teixeira, tem como um dos tópicos estratégicos de sua plataforma da gestão o fortalecimento do projeto, uma continuidade de uma das prioridade da gestão do ex-presidente Hermes Ferreira Figueiredo, que apoiou sem ressalvas a criação das Redes de Cooperação. Nós que atuamos no dia a dia das redes não temos dúvidas de que o projeto irá avançar em 2021, em função das oportunidades e do foco em fortalecer e ampliar as iniciativas das redes.

Faço o convite para que busquem melhorar os resultados acadêmicos, administrativos e financeiros da IES via participação no projeto Redes de Cooperação do Semesp.

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Basta de prejudicar o aprendizado e fechar as instituições de ensino.

Na quinta-feira, dia 18, fomos surpreendidos com a decisão do prefeito de São Paulo, de antecipar os feriados. No dia 19, o decreto 60.131, regulamentou a lei publicada no dia anterior. O decreto não se aplica “às unidades de saúde, segurança urbana, assistência social e ao serviço funerário, além de outras atividades que não possam sofrer descontinuidade”. Não há dúvida de que é preciso salvar vidas e diminuir a ocupação dos leitos e UTIs, isso não se discute, por outro lado, as atividades que são realizadas integralmente de forma remota, precisam ser interrompidas, em função do feriado?

As instituições de ensino (IE) estão funcionando de forma remota, por uma determinação do plano do estado de São Paulo. Por que impedir o seu funcionamento, na cidade de São Paulo? Aliás, as aulas precisam ser retomadas de forma gradual e com os protocolos de segurança estipulados pela legislação vigente. O decreto aumenta o prejuízo do aprendizado, o desconforto dos alunos, ávidos pelo retorno das aulas e das escolas. Os gestores das IE se sentem inseguros em função do aumento da inadimplência e da evasão, porque não há aulas. 

No dia 24 de janeiro, o portal G1 publicou a reportagem “Relatório da Unesco mostra que estudantes perderam em média 2/3 do ano letivo por causa da pandemia”. A paralização foi em média de 5,5 semanas no mundo, na América Latina  e no Caribe foi de 29 semanas, no Brasil, foi de 40 semanas. Segundo o relatório, há uma baixa prioridade à educação nos esforços de recuperação econômica. Os investimentos no setor estão aquém das necessidades e o decreto 60.131 irá paralisar o ensino remoto.   

O mesmo portal publicou no domingo, dia 21/03/2021, o artigo “Número de alunos transferidos para a rede pública em SP cresce 44,4% e inadimplência em faculdades já é a maior da história”, de Bárbara Vieira. A inadimplência cresceu 29,9%, segundo o Instituto Semesp, no Brasil, tendo como parâmetro os anos 2019/2020. Já o aumento da evasão foi de 14,7%. Em 2021 haverá uma piora dos indicadores, com o aumento do desemprego, a perda de renda das famílias e as decisões polêmicas do poder público.  

   O jornal “El País” publicou o artigo “Educación superior en América Latina: se acabó la fiesta?, de Otto Granado. O autor,  comparando a taxa bruta de escolarização na América Latina, que é de 52%, com a dos países da OCDE, de 75,6%. Ele estima um crescimento de matrículas de 1% por ano, na América Latina. No Brasil, é de 35,9%. Em 2019 as novas matrículas no ensino presencial tiveram uma taxa negativa de – 3,8%,  no EAD, o aumento foi de 19,1%, segundo o Instituto Semesp. A perspectiva é de um cenário nebuloso para o ensino superior. As taxas de crescimento, no Brasil,  serão pífias, em um cenário de crise.  No geral, o crescimento em 2019 foi de 1,8%.

Granados afirma que o diploma do ensino superior não é mais um passaporte para o emprego. Sim, é fato. O Brasil corre o risco de se tornar uma fábrica de diplomas e formar um contingente de pessoas sem empregos. Impedir o funcionamento das instituições de ensino em função de feriados antecipados intensificará a desconfiança das famílias em investir nas mensalidades escolares, o desinteresse dos estudantes, a perda do aprendizado, a inadimplência e a evasão.

Segundo Granados, o sistema de ensino da América Latina produz pouco êxito para os egressos. Em 2019, em um levantamento da Global Leaders in Innovation, da Organização Mundial de Propriedade Intelectual, que classifica a inovação em 129 países, a Ásia representou 66,8% das patentes solicitadas, a América Latina, 1,7%. No ranking Bloomberg Innovation Index 2021, o Brasil ocupa a posição 46. Provavelmente, quem detém os melhores indicadores de inovação são as universidades públicas. De modo geral, nossas IES reproduzem um modelo acadêmico que não estimula a transformar suas ideias, em produtos e serviços.    

O portal Terra publicou no dia 17 de março, a reportagem “70% das crianças do Brasil podem não aprender a ler”, de Renata Cafardo e Júlia Marques. O artigo repercute um relatório do Banco Mundial que fala em tragédia nunca vista na aprendizagem dos jovens, já que 2 em 3 alunos do Brasil” podem não conseguir  “ler adequadamente um texto simples aos 10 anos”. Os prejuízos referentes à perda de conhecimento e de produtividade das pessoas pode chegar a 1,7 trilhão de dólares, em função da fragilização da formação do capital humano. O Brasil tem um índice de “pobreza de aprendizagem” em torno de 50%, e pode chegar a 70%. Não temos estudos referentes ao ensino superior, mas sem dúvida, a perda é e será significativa.

A ausência, a fragilidade ou os erros em políticas públicas para a educação gera um impacto significativo no funcionamento e na dinâmica do sistema de ensino superior. Por outro lado, as opções errôneas dos gestores de IES, na definição do modelo de oferta acadêmica, em um mundo de rápida transformação, também gera perda de competitividade da instituição.

No domingo, dia 21 de março, 500 economistas, banqueiros e empresários publicaram uma carta aberta em que pedem medidas eficazes para o combate à pandemia. O documento afirma que “as escolas devem ser as últimas a fechar e as primeiras a reabrir em um esquema de distanciamento social”. O texto faz referências às perdas de aprendizado, que atinge, principalmente, as famílias mais carentes.   

O fato é que demandamos dos formuladores de políticas públicas, do diálogo com as associações representativas que precisam, em bloco, apresentarem dados sobre as perdas do aprendizado e a argumentação objetiva de que o fechamento da escola está intensificando a evasão, a inadimplência e a perda do sentimento de que estudar é preciso.

Basta de prejudicar o aprendizado e fechar as instituições de ensino, quando não é necessário. Esperamos que o Prefeito de São Paulo retifique o decreto 60.131. A sabedoria está no equilíbrio e no bom senso.

Diretor de Inovação e Redes do Semesp, Presidente do Consórcio Sthem Brasil, Diretor de Inovação da Unicesumar, Consultor de Inovação da Afya e professor do Unisal. 

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MESMO COM A CRISE, SUA IES PODE PROSPERAR

Escrevi recentemente o artigo “Antes de melhorar, vai piorar”, e, de fato, estamos em um ambiente de crise intensa. Leio em veículos como Times Higher Education e The Chronicle Higher Education análises que demonstram que a crise está não somente no Brasil, mas também nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Austrália, no México e em outros países. Saber que o ensino superior passa por problemas mundiais conforta? Não. Aliás, podemos ter um aumento da ansiedade e da desesperança com a educação.

Mas não podemos olhar o copo apenas com a metade vazia, é preciso olhar também a outra metade cheia. A parte vazia nos dá a sensação de que o sistema pode ir à bancarrota, de que haverá um fechamento generalizado de IES, de que os grupos educacionais vão definitivamente dominar o mercado educacional, especialmente aqueles que utilizam estratégias de guerra de preço, porque possuem condições financeiras para “bancar o negócio” em um ambiente de crise econômica e de baixa captação.

Rebecca Natow, estudiosa de política e liderança no ensino superior, escreveu recentemente, no The Chronicle, o artigo “Why haven´t more college closet” [Por que não fecharam mais faculdades?, em tradução livre]. A autora retoma diferentes prognósticos de fechamento de IES nos Estados Unidos, realizados por consultorias, jornalistas e especialistas em ensino superior, que não se confirmaram.

Havia uma previsão de fechamento de 500 a 1.000 IES. Rebecca indica que o fechamento não irá ultrapassar 100 instituições, em um sistema que, em 2017, tinha 4.313 IES. O artigo traz um dado interessante. Mesmo na Grande Depressão de 1929, aproximadamente 2% das IES encerraram suas atividades nos Estados Unidos. No Brasil, não temos dados oficiais, mas se considerarmos os pedidos de fechamento de mantenedoras solicitados no Conselho Nacional de Educação, em 2020, foram de aproximadamente 74 processos voluntários, o que representa 4%, do sistema. Por que as previsões de crise generalizada não se confirmaram até o momento? Provavelmente, porque muitas IES possuem raízes em suas cidades e regiões.

Eu e o Rodrigo Capelato, colaborador nesse texto, temos a honra de estarmos vinculados ao Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra, orientado pelo professor António Rochette. E eu tive o prazer de acompanhar a adesão da universidade no Consórcio Sthem Brasil. A instituição nasceu em 1290, portanto tem 731 anos. O Brasil ainda não tinha sido “descoberto” e ela já existia. A universidade resistiu a pandemias, guerras, ditaduras, crises financeiras e disputas políticas internas.

A Universidade de Coimbra é um exemplo de capacidade de resistência, especialmente porque oferece ensino superior no sentido clássico, pautado na ciência, na discussão de ideias, na formação humana, entre outras características. A Universidade de Harvard é de 1636; a Universidade de Cambridge é de 1209; a de Bolonha de 1088, e é possível citar tantas outras. Todas são seculares e referências em ensino superior.

O leitor pode estar pensando, o Fábio Reis está confundindo alhos com bugalhos. Não, eu sei que a história dessas universidades tem suas peculiaridades, sei que há investimento público, que há muita doação da iniciativa privada e que há muita cooperação com o setor produtivo. Por outro lado, também sei que essas instituições não abdicaram dos valores fundamentais do ensino superior.

Essas universidades vão prosperar por mais séculos, pelo prestígio, pela história, pela capacidade de produzir conhecimento e ciência e pela formação de pessoas que influenciam as políticas públicas nas diversas dimensões do conhecimento.

E as pequenas e médias IES brasileiras, que não são Harvard ou Universidade de Coimbra, vão sobreviver? A minha resposta é sim. Mas é importante que elas ofereçam ensino superior efetivo, que entendam de educação, continuem formando cidadãos e sigam a recomendação da Rebecca Natow: “Permaneçam fiéis às missões importantes de centrar o aprendizado nos alunos, produzir pesquisa valiosas e servir habilmente às suas comunidades”.

As recomendações acima podem parecer “românticas”. Vamos então fazer sugestões simples e pragmáticas:

  • Gestão: Faça gestão com informações e big data, conheça as evidências e o macroambiente do ensino superior, seja um líder, cuide dos gastos, corte o que for possível, mas não tire a alma da IES.
  • Inovação: Invista em inovação, tecnologia e empreendedorismo, estude as boas experiências internacionais, combata a resistências, crie novas concepções de projetos acadêmicos, com currículos que engajem o estudante. Invista na mudança de perfil do docente.
  • Pessoas: Empodere as pessoas compromissadas, que criam ondas de multiplicação das boas práticas, que sejam empáticas e que não tenham receios de fazer as coisas diferentes.
  • Redes de Cooperação: Faça a adesão às redes de cooperação, busque aprendizado institucional e redução dos cursos, deixe de operar de forma isolada, fortaleça a circulação das ideias que circulam na instituição.
  • Ensino Superior: Faça ensino superior na essência, não abdique da formação consistente de cidadãos que possam colaborar com a resolução de problemas da sociedade, produza conhecimento, seja uma IES relevante e que tenha impacto social.
  • Futuro do Trabalho: Dedique-se ao estudo das tendências do trabalho e do mundo digital, visualize o impacto na formação dos estudantes e faça mudanças na concepção acadêmica. Priorize a formação de pessoas que podem desenvolver seus próprios negócios e que possam trabalhar por conta própria, em diferentes frentes, ao mesmo tempo.

Faço alguns comentários sobre as sugestões acima. Ensino superior não é um curso livre ou cursinho para preparação para concursos da OAB ou avaliações como ENADE. As IES devem focar nessas avaliações, mas não podem ser reduzidas a cursos preparatórios. É lógico que precisamos formar pessoas para o mercado, mas isso não é o único pilar que sustenta o ensino superior.

Nós, que atuamos no ensino superior, ficamos encantados com a Escola 42, instituição que nasceu nos Estados Unidos, focada em formar programadores. A Escola não utiliza professores. Os desavisados podem achar que a 42 pode ser referência para as nossas IES, e que então é possível funcionar sem professores, ou com poucos docentes. Os desavisados podem gostar do modelo porque visualizam a diminuição dos custos, mas o ensino superior supõe professores bem preparados. Podemos até utilizar chatbot e outras formas de inteligência artificial, mas não substituiremos os docentes. A 42 não é uma instituição de ensino superior. Ela é basicamente uma escola que oferece cursos livres.

O leitor também pode achar que até o momento este texto está reativo às inovações. A contra argumentação poder ser que nosso modelo de IES está falido, o ensino superior como conhecemos morreu, por isso a 42 pode ser um modelo para o sistema. Primeiramente, eu não me sinto reativo. E, de fato, é preciso reinventar o modelo de IES, é preciso reconstruir nossas instituições, mas isso não significa confundir cursos livres, de curta ou longa duração, com ensino superior. A IES pode aceitar a carga horária ou os créditos dos cursos livres, pode e deve oferecer certificação intermediária ou nano degrees, pode instigar a autonomia do estudante, como faz a 42, mas é preciso reconhecer que são concepções e funcionamento diferentes. O fato é que a 42 é fruto de uma atitude empreendedora e inovadora, e as nossas IES, de modo geral, não possuem uma cultura da inovação capaz de fazer transformações ágeis.

Utilize o exemplo da Escola 42 no que for possível em sua IES, mas com sabedoria. Caso contrário, recomendo que descontinue sua IES e funde uma instituição de educação com formação livre.

Tenho restrições a inovações no ensino superior sem lastro e sem vínculo com o seu significado, conduzidos por populistas da inovação (muito discurso e pouca prática) ou inovadores do apocalipse (que possuem uma única saída – geralmente a deles – ou que defendem: façam isso ou aquilo ou morram).

Nos últimos dias, tenho conversado com muitas pessoas. Conversei com um mantenedor de uma IES de pequeno porte da Baixada Santista. Ele está sintonizado com as boas práticas do ensino superior, fez cortes drásticos na instituição, busca participar de redes de cooperação e tem convicção de que sua IES irá sobreviver. Ele está certo. Tenho observado e conversado também com um mantenedor do Rio de Janeiro que implementou uma gestão pautada em indicadores, investiu em pessoas qualificadas, fortaleceu práticas empreendedoras e currículos inovadores. É isso. Há IES que buscaram soluções e encontraram um caminho viável para a prosperidade.

Sua IES não precisa ser Harvard ou a Universidade de Coimbra. Sua IES irá prosperar se você investir em educação, em gestão, em diálogo com os jovens, em capacitação dos professores, em pessoas e em redes de cooperação. Essa é a fórmula infalível para o sucesso? Não é. Mas é um caminho possível.

Faça ensino superior da melhor forma possível. Somente assim você estará valorizando a formação que a sua IES oferece e poderá ter vida longa, mesmo que enfrente crise.

*Fábio Reis, diretor de Inovação e Redes do Semesp, com a colaboração de Rodrigo Capelato, diretor Executivo do Semesp.

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Um advogado vocacionado a defender a educação privada

Caro leitor, você sabe como o sistema de ensino superior atual foi organizado, nos últimos 30 anos? Provavelmente você tem uma série de informações, e sabe fazer boas análises de contextos, mas se você quiser conhecer um panorama consistente sobre esse assunto eu recomendo a leitura do livro “A educação como vocação e o direito como expressão”, do advogado José Roberto Covac, conhecido no setor como Covac, que eu considero um dos maiores especialistas em legislação educacional do país e que em sua trajetória se transformou em uma importante personalidade do ensino superior privado.

O Covac tem uma memória privilegiada dos bastidores do setor privado, dos embates políticos em torno das polêmicas sobre políticas públicas, do papel relevante exercido pelas associações representativas do ensino superior na defesa do setor, em especial do Semesp.  Através da memória privilegiada do Covac podemos conhecer a história do ensino superior do Brasil nas últimas três décadas, em um livro que tem como guia a própria trajetória de vida do autor.

Sou formado em História e sei que as transformações são realizadas pelas pessoas, que são responsáveis pelas IES ou pelas organizações públicas e privadas. A postura ideológica, política e social dos líderes do ensino superior, explicam suas ações, projetos e articulações políticas. Nesse sentido, é preciso ressaltar o papel de pioneiros do ensino superior privado, que de forma significativa contribuíram para tornar o setor o que é hoje.

Se o setor privado é responsável por 75% das matrículas do sistema, isso se deve a decisões de agentes públicos, mas também, à capacidade de articulação política de pessoas como Gabriel Mario Rodrigues, Hermes Ferreira Figueiredo, Candido Mendes, Vera Gissone,  Wilson Matos,  João Carlos Di Gênio, a Família Mesquita, e tantos outros, além das entidades confessionais e beneficentes que sempre tiveram papel importante.

Covac narra de forma contextualizada a expansão do sistema de ensino superior e deixa claro o papel das pessoas que foram relevantes para a consolidação do setor privado. Como leitor, fiquei me perguntando quem serão os próximos mantenedores a assumirem o papel de liderança, de construir pontes, de pensar em seus interesses, mas acima de tudo de defenderem o setor de ensino superior privado. Os nossos pioneiros foram capazes de fazer tudo isso ao mesmo tempo em que defendiam seus interesses como mantenedores e empreendedores.

Hoje, os que representam entidades mantenedoras não podem se limitar a reclamar dos males da organização e da dinâmica do ensino superior. É preciso agir, é preciso superar os egos e a visão de que cabe ao representante da entidade mantenedora cuidar apenas da sua instituição. Com a leitura do livro eu reforcei uma convicção: é preciso dialogar, ouvir, ponderar e propor soluções. Aliás, o sucesso profissional do Covac é explicado pela sua habilidade profissional, mas também pelo seu estilo de construtor de consensos. 

A leitura do livro permite um aprendizado sobre como estabelecer sinergias para equilibrar interesses. Espero que leitura desperte em mantenedores e gestores de IES o interesse pelas políticas públicas e pela participação nos debates. O Covac, em diversos momentos do livro, cita o documento “Diretrizes de Política Pública para o Ensino Superior”, elaborado pelo Semesp em 2017 e revisto em 2018, de cuja elaboração ele também participou. O documento tem um papel importante de defesa de mudanças estruturais no sistema de educação. A elaboração do documento foi feito por várias pessoas, mas Covac faz uma referência especial ao mantenedor Sérgio Fiúza, do Cesupa, de Belém. Fiúza é um mantenedor inconformado, é incansável em defender políticas públicas para o ensino superior, e espero que ele sirva de exemplo para os mantenedores.

Para aqueles que querem estudar as mudanças na legislação educacional desde a Constituição de 1998, o livro do Covac é uma ótima referência. Covac foi e é um ator importante em diversas negociações que resultaram em mudanças no Prouni, no Fies, na crítica ao projeto ao Insaes em 2020, e à reforma universitária em 2004, entre outros momentos.

Se o caro leitor é quem toma decisão em sua instituição, eu pergunto: você sabe como ocorreram os debates e a elaboração educacional dos últimos anos? Se não sabe, como você toma decisões? Você pode abrir o computador e ter um BSC em sua tela com uma série de  indicadores, mas lembre-se de que os indicadores são resultados de um contexto que é bem retratado pelo Covac no livro.

A obra permite que o leitor conheça momentos de articulação informais. Os casos contados pelo Covac são de alguém que realmente conhece os bastidores do ensino superior. Aliás, um dos momentos tensos para o nosso setor foi a negociação com então ministro Fernando Haddad, quando foi instituído o IDD, o IGC e a distorção do Sinaes. Em casos como esse, podemos perceber de forma clara a articulação dos líderes do ensino superior.

Algo que me surpreendeu na leitura foi o estilo do Covac. De um advogado, eu esperava um texto carregado de normas, citações de leis e análises intermináveis da legislação educacional. Isso não acontece. Pelo contrário, o autor se revela como uma pessoa engajada no ensino superior e creio que deve ter contribuído o fato de ter sido também diretor de faculdades, professor de pós-graduação e Mestrado Profissional e também mantenedor.

É comum os líderes das IES temerem fazer inovação, em função da regulação. Covac nos convida a ir além da regulação, a superar vícios, a conhecer a legislação e a utilizá-la em nosso favor. Ao longo da leitura do livro foi possível perceber que muitas amarras estão em nosso conservadorismo, em nosso temor e falta de coragem em inovar.

Covac se revela como um defensor da inovação acadêmica, como um empreendedor que através Covac Sociedade de Advogados, e  como fundador da  Expertise Educação, promoveu eventos e missões internacionais, como Harvard, IMT, Stanford,  Babson College, entre outras.

 A atuação do Covac nunca foi isolada, ele sempre caminhou com pessoas como Rodrigo Capelato, Ana Maria Sousa, eu mesmo  e outras pessoas que construíram com ele bons projetos.

Há várias abordagens no livro, que permitem outras análises. Covac esteva envolvido em debates críticos aos conselhos de classe e na defesa da filantropia, entre outras boas causas. Ele não foi apenas um observador dos últimos anos do sistema de ensino superior. Foi um agente ativo que contribuiu e ainda contribui para a história do ensino superior privado. Podemos encontrar em nosso ambiente críticas ao Covac, o que é comum em um ambiente marcado pela diversidade de associações, de interesses políticos e financeiros.  Eu digo que ao longo do temo ele defendeu o setor do ensino superior privado, e a sua IES, caro leitor, de alguma forma foi beneficiada.

Recomendo a leitura do livro. Aliás, mantenedores, reitores e todos os gestores deveriam colocar a obra na lista de livros prioritários. Sim, a defesa do ensino superior é uma vocação do autor, a advocacia é uma forma de ele expressar o que acredita, e de defender as ações de seus clientes.

Uma última dica é que o livro “A Educação como vocação e o Direito como expressão” está na plataforma chamada Um Livro (www.umlivro.com.br), onde poderá ser adquirido, e que está conectada a livrarias e marketplaces como Amazon, por exemplo.

  • Diretor de Inovação e Redes de Cooperação do Semesp, Presidente do Consórcio Sthem Brasil, Diretor de Inovação Acadêmica da Unicesumar, Consultor de Inovação da Afya Educacional e professor do Unisal.