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Diário de bordo 2: do propósito institucional ao sucesso do estudante

Fábio Reis

Ana Valéria Reis

Os estudantes devem ser a prioridade das instituições de ensino, afinal, estamos no ramo da educação e ela serve para formar pessoas cidadãs, capazes de produzir novos conhecimentos. É fato que nossas instituições cumprem seu papel educacional ao oferecem aulas, professores, infraestrutura e outras oportunidades a jovens e adultos, todavia, estamos em um momento em que é preciso ir para além do convencional e isso exige reorganizar prioridades e investimentos. É preciso discutir sobre o tipo de educação que oferecemos aos alunos.

Definitivamente, é preciso cuidar do sucesso do estudante. 

Nesta 12ª Missão do Semesp, para os Estados Unidos, visitamos quatro universidades e este diário de bordo é sobre a University of South Floria (USF), a Flórida Polytechnic University (FPU) e sobre a Must University, onde tivemos a oportunidade de conversar com Antonio Carbobari, seu fundador.

Instituições diferentes, porém, com propósito institucional bem definido e com foco no sucesso do estudante

Temos um convite para os leitores que são gestores e que contribuem para a tomada das decisões institucionais: tenham um projeto para o sucesso do estudante. O que é sucesso do estudante? Não há uma única definição, mas o sucesso pode ser compreendido como a sua satisfação com o curso que está frequentando, com sua capacidade de superar as dificuldades das disciplinas, de ter boas notas e de terminar seu curso, com seu engajamento no aprendizado, sua capacidade de desenvolver e aplicar as competências pessoais e profissionais adquiridas ao longo da formação, com seu bem-estar,  sua saúde mental, sua convivência social intensa e harmoniosa, com sua empregabilidade e seu sucesso profissional. Defina o sucesso do estudante em sua IES e crie ações consistentes. 

É fato, caro leitor, que IES comprometidas com os estudantes possuem projetos para que eles tenham sucesso durante sua formação no ensino superior, no exercício da profissão e na vida em sociedade. 

A USF atua nesse tema há mais de dez anos. A taxa de retenção (relação entre alunos que iniciam o curso e terminam) está próxima a 70%. Há uma série de serviços oferecidos ao aluno e às suas famílias. Há serviços de aconselhamento e tutorias sobre sua trajetória acadêmica, o que o ajuda a escolher disciplinas, melhorar desempenho e se inserir no mundo do ensino superior e a optar por unidades extracurriculares. O estudante é acompanhado em diferentes dimensões. Há um grupo de pessoas envolvidas em cuidar do seu sucesso e de engajar as famílias nesse processo. Os serviços estão conectados, possuem planos, metas e investimento. 

Sem dúvida, de modo geral, no Brasil cuidamos do sucesso do estudante. Talvez tenhamos de refletir sobre o impacto dos nossos serviços, se é preciso qualificá-los e como mensurá-los.

Ter um serviço de tutoria bem organizada não é custo, é investimento. Percebemos durante as visitas um esforço das IES em irem além dos atendimentos convencionais, com secretaria e serviços terapêuticos. As instituições visitadas são pró-ativas, enxergam o estudante de forma holística e fomentam a participação dos alunos em projetos que os levam a ter sucesso. 

A FPU é um instituição também com propósito bem definido. Ela se autodeclara como uma universidade da área do STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), focada em pesquisa que traga impacto na produção de novos conhecimentos. Há projetos de vínculos com o setor produtivo, bem desenhados. A universidade não deverá ter mais de 5 mil estudantes, quer atrair bons estudantes e os melhores professores (há programa de atração de docentes investigadores reconhecidos na comunidade acadêmica) e oferecer laboratórios com equipamentos que viabilizem pesquisa de ponta.  

A FPU nos ensina algo simples: é preciso desenhar bons projetos administrativos e acadêmicos e definir o propósito institucional, alinhado com os melhores parâmetros do ensino superior e uma infraestrutura funcional e contemporânea. Para quem atua em educação, é preciso ter o compromisso com a formação dos estudantes, para que tenham o perfil demandado pela sociedade. A FPU é um instituição bem resolvida em sua missão e identidade. 

Instituições de ensino precisam ter um conjunto de fatores para obterem sucesso: líderes, gestão,  plano, foco no estudante, professores compromissados e qualificados, tecnologia e infraestrutura adequada para a atualidade e para o que está por vir. Fazemos aqui uma provocação: ter nota 5 em um avaliação in loco no MEC, indica, de fato, que a IES é diferenciada e está respondendo aos desafios atuais da sociedade? É preciso ser diferenciado, em um ambiente em que o ensino superior é cada vez mais pasteurizado. 

A Must University é uma universidade on-line, fundada por Antonio Carbonari, na Flórida. É uma instituição sediada nos Estados Unidos, com mais de 90% de seu público formado por brasileiros. A Must tem focado a suas estratégias nos programas de mestrado, com altas taxas de validação no Brasil. É preciso reconhecer que Carbonari é empreendedor, ousado, inquieto e tem coragem, ao investir no ensino superior no Estados Unidos, para um público de brasileiros que está em diversos lugares do mundo e para hispânicos. A Must ainda é uma instituição nova, pois foi fundada em 2017. Ela tem um projeto bem definido e o seu modelo de negócio é viável. 

Sobre o Carbonari, podemos concordar com ele ou discordar dele, podemos até ficar espantados com algumas de suas ideias, mas é preciso ouvi-lo e reconhecer o seu papel na dinâmica do ensino superior privado. 

As instituições de sucesso possuem projetos bem desenhados, propósitos institucionalizados e alinhados com a dinâmica do ensino superior, professores qualificados e estes priorizam o aprendizado dos estudantes. O contrário dessas boas práticas, provavelmente irá gerar constantes e diferentes crises institucionais, pois projetos acadêmicos e administrativos frágeis e fragmentados, não valorização do docente e desconhecimento ou descrédito em relação aos processos de aprendizagem, não irão garantir prosperidade e vida longa de sucesso para a IES. 

Aqui termina a nossa viagem desta missão, mas sempre constante em novas perspectivas para mais ações sempre em prol de uma educação de qualidade, eficiente e significativa

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Diário de bordo: instituição de educação cuida dos estudantes

Fábio Reis
Ana Valéria Reis

Estamos na 12ª Missão Internacional do Semesp e já visitamos duas universidades (Harvard e Southeren New Hampishere University – SNHU) e ainda vamos visitar outras duas instituições. Há aprendizados interessantes até aqui, que gostaríamos de compartilhar.

Em Harvard, ouvimos de Eric Mazur algo com que concordamos: pedagogia é mais importante que tecnologia e é preciso criar um ambiente de aprendizagem em nossas IES.

Mazur apresentou dados e evidências de que é possível haver aulas remotas que engajam e motivam os estudantes. Como isso é possível?: a) com um bom desenho do projeto acadêmico institucional; b) com um bom desenho dos cursos e das aulas; c) com investimento nos professores; d) com motivação dos alunos.

Mazur argumentou que se continuarmos com pouco foco no aprendizado ou se continuarmos com o mesmo processo de avaliação convencional, é provável que nossas IES se distanciem da “vida real”, em que nossos egressos trabalham com projetos reais, resolvem problemas reais de forma coletiva e atuam com pessoas de diferentes perfis. É preciso rever as avaliações individuais, estruturadas em memorização, com pouco foco no aprendizado e nas competências.

A IES com avaliações convencionais pode até obter nota máxima no ENADE, mas isso resolve o processo de aprendizagem, de engajamento, de criatividade e de encantamento dos estudantes? Talvez, não.

Richard Miller, presidente emérito de Olin College trouxe-nos uma perspectiva que ainda não é nossa prioridade: cuidar da saúde mental e do bem-estar dos estudantes. O que nos caracteriza e prevalece é sermos IES de “professor, sala de aula, lousa e giz” ou de zoom com professor falando e tentando instigar a participação, mas com pouco engajamento dos estudantes. Vivência social, saúde, felicidade do estudante não é nossa prioridade.

Esses temas terão que estar em nossa pauta. Cuidar do sucesso do estudante e do seu bem-estar era um diferencial da instituição, agora, é uma necessidade, em tempos de pandemia, de pós isolamento, de necessidade de intensificarmos a convivência social.

A tecnologia é nossa aliada no processo de melhoria do aprendizado e no acompanhamento do bem-estar e monitoramento das vivências e experiências dos estudantes. Justin Reich do MIT, defendeu que antes do investimento em tecnologia precisamos de desenhar bons projetos, investir em pessoas. Para ele, as IES falham quando investem em tecnologia, sem projetos ou querem fazer inovações rápidas apoiadas em tecnologias, não na mudança cultural. Reich, não é contra a tecnologia, mas a entende como um fator de apoio a um processo de transformação institucional. É fato: pessoas, boas ideias, planos e liderança são elementos que podem induzir um processo de transformação institucional.

Por fim, em Harvard, tivemos o professor de MIT, Amitava Babi Mitra, responsável pelo New Engineering Education Transformation (NEED), uma iniciativa transdisciplinar que instiga os estudantes a apreenderem através do desenvolvimento de projetos reais. O NEED não seria uma iniciativa curricular, mas sim um núcleo que congrega alunos de diversos cursos para o aprendizado cooperativo e desenvolvimento de projetos que tenham impacto na sociedade. As IES brasileiras estão avançando nesse tipo de iniciativa, especialmente, através dos projetos integradores e da curricularização da extensão.

A visita a SNHU trouxe perspectivas novas para o grupo. Os gestores declaram que o foco é o estudante, já que os projetos institucionais são pensados a partir do aprendizado e da formação por competências. É comum desenharmos projetos acadêmicos em que declaramos que o estudante é a prioridade, mas não sabemos até onde de fato nos dedicamos a desenvolver e a aplicar ações que tenham o aprendizado como prioridade.

O Reitor da SNHU declara ser um estudioso do tema da aprendizagem. Não é comum isso, pois muitos dos gestores argumentam que pedagogia é um tema para pedagogos e que cabe a eles fazer a gestão executiva. Gestores de diferentes níveis erram quando discutem como o aluno pode se engajar e aprender. Eles acertam quando criticam os discursos vazios e ideológicos do mundo acadêmico. Os gestores não podem esquecer que o “negócio” da instituição de educação é o aprendizado dos estudantes, é pesquisa, é responsabilidade social e que o aluno está na sua IES para aprender algo.

Uma das características da SNHU é sua capacidade de fazer análise de dados, de acompanhar a vida do estudante em diferentes aspectos, em utilizar, de fato, o “big data” como um fator de estratégico. Há equipes que se dedicam em compreender o comportamento do estudante e fazer analises preditivas. No Brasil, precisamos avançar nas análises das informações institucionais, para que possamos acertar mais na tomada de decisões.

A SNHU está refazendo seu modelo acadêmico, com flexibilização dos currículos, com uso correto e contínuo das certificações, com uma formação vinculada ao mercado de trabalho, com aconselhamento dos estudantes. Eles sabem que é preciso reinventar a IES e que o “mais do mesmo” não trará bons resultados, nesse sentido são ousados em imaginar uma IES alinhada com a dinâmica dos tempos em que estamos vivendo.

A SNHU tem 170 mil estudantes, sendo aproximadamente apenas 5 mil presenciais. É uma instituição para estudantes de baixa renda, onde muitos conseguem bolsas de estudos do governo para sua graduação. Somente durante a pandemia eles cresceram 40 mil estudantes.

Com um perfil de público bem definido, um modelo acadêmico de cursos on-line focado no aprendizado do estudante, na flexibilidade e nas competências, a SNHU se tornou referência. Obviamente que a universidade precisa aperfeiçoar processos e projetos, mas hoje, sem dúvida, é uma referência no ensino superior.

Em nossos debates ao longo das visitas conversamos sobre nossas dúvidas, angústias e aprendizados. Sabemos que fazemos um bom trabalho em nossas IES, mas que é preciso avançar, qualificar e intensificar o processo de inovação.

Até o momento, elencamos alguns pontos de aprendizado pessoal:

as mudanças institucionais devem ser inspiradas e conduzidas pelos gestores das IES (esta afirmação é obvia, mas é preciso repetir diversas vezes). Há gestores que desconhecem a dinâmica do ensino superior e há gestores que temem fazer mudanças. Esses gestores farão o mais do mesmo e podem até conseguir os mesmos resultados (duvidamos da manutenção dos mesmos resultados acadêmicos e administrativos, por um longo tempo), mas não vão conduzir mudanças significativas na IES
Se não cuidarmos do aluno, de seu aprendizado e do seu bem-estar, podemos ser rejeitados por eles (baixa matrícula e evasão). Não podemos nos tornar instituições fornecedoras de diplomas, sem valor para a sociedade, em baixa ou alta escala. Temos uma hipótese: IES com conteúdo pasteurizado, sem conexão com a vida real, com professores sem competências digitais e pouco engajados com o aprendizado dos estudantes e com estudantes desmotivados e pouco envolvidos com projetos de vida, com propósitos sociais, terão problemas para manter sua competitividade. Temos um temor: sermos mais iguais do que diferentes, sermos mais executivos e menos conhecedores das estratégias de engajamento dos estudantes.
É preciso desenhar bem nossos projetos acadêmicos e administrativos e dedicarmos tempo para realizar uma mudança cultural na IES. Talvez tenhamos de repensar nosso modelo de negócio, como está fazendo a SNHU. Nossas IES possuem pilares, ritos e tradições que a trouxeram até 2022, mas é preciso entender que pandemia, novas tecnologias, mudanças de comportamento, perfil dos jovens, novas formas de comunicação intensificaram as mudanças na sociedade. Outra afirmação óbvia, mas o que nos trouxe até aqui não nos levará para o futuro. O que ouvimos em Harvard e na SNHU, reafirmaram nossas convicções.

As missões internacionais do Semesp não servem para fazer um “control C e control V”. Elas servem para trazer novos aprendizados, para reafirmamos convicções ou para reaprendermos e refazermos nossas convicções, servem para trocarmos experiências, servem para sermos instigados a repensarmos ações institucionais. Nesse sentido, a missão até o momento cumpre seus objetivos.

Convidamos todas as pessoas que atuam no ensino superior a olharem para o espelho e perguntarem-se constantemente: estou fazendo a coisa certa? Há coisas que preciso repensar ou aprender? Que possamos sempre estar com a mente aberta para as boas novidades e para as boas práticas nacionais e internacionais de nossas IES.

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Nada se assemelha mais a um saquarema do que um luzia no poder.

A frase acima ficou famosa e foi dita pelo político pernambucano Antônio de Paula Holanda Cavalcanti de Albuquerque. Ela expressa que não há diferenças entre os saquaremas (conservadores) e os luzias (liberais). Em uma sociedade em que as informações circulam e em que as narrativas são amplamente difundidas pelas mídias sociais, um discurso liberal, muitas vezes esconde posturas conservadoras, que de fato, temem as mudanças. Em meados do século 19, quando a frase foi dita, liberais e conservadores não queriam a mudança de padrões sociais, econômicos e políticos. No presente texto, um saquarema é o gestor de uma IES convencional, que não inova, apesar da narrativa da inovação. O luzia é o gestor com vocação para inovar.   

Quem conhece meus textos sabe que gosto de provocar reflexões e, se possível, incomodar as pessoas, para tirá-las da zona de conforto. Ao fazer um olhar panorâmico sobre o ensino superior, sempre penso em algumas perguntas, para as quais não tenho respostas: será que de fato avançamos no processo de inovação? Será que enfrentamos com convicção e assertividade as resistências internas da IES? Será que de fato estamos redesenhando nossos modelos acadêmicos? Será que estamos investindo na capacitação de nossos professores com convicção e planejamento? Será que sabemos o que é inovação e estamos investindo na transformação cultural da IES? 

Em um mundo ideal, os adeptos à mudança fazem mudanças contínuas, mesmo que passo a passo. Aqueles que acreditam em inovação buscam as melhores referências em inovação, os que acreditam em redes dedicam tempo para cooperar, os que acreditam que podemos mudar a educação investindo nos professores, de fato, investem nos professores. Os líderes inovadores e empreendedores são inovadores e empreendedores no discurso, nas atitudes e no investimento, buscam informação e formação, planejam e investem.

   Há líderes que sempre justificam o porquê de não cuidar da inovação: falta tempo, falta recursos, há resistências internas, o MEC inibe e pode punir, há problemas cotidianos para cuidar, há outras atividades e agendas. Há líderes que não fazem inovação, porque não acreditam nela e talvez haja aqueles que pensam prioritariamente no resultado financeiro, não na construção de projetos acadêmicos sólidos. As narrativas estão em nosso cotidiano. Como acreditar em gente que faz discursos sobre a inovação, mas sempre tem justificativa para não fazer a inovação.

Um líder que não investe em inovação e no seu professor é um “saquarema”. Até pode se apresentar como um “luzia”, mas tem alma conservadora. Em uma sociedade em que podemos construir uma imagem de inovador pelas mídias sociais, pelos discursos, pelas pinceladas de inovação, o conservador pode através da “imagem” se apresentar como um liberal.

Gestores inovadores planejam, cuidam do projeto, investem tempo e recursos financeiros, monitoram os resultados, cuidam das pessoas, investem na formação do seu pessoal, fazem conexões, vão além de pinceladas de inovação e estão dispostos a desaprender e aprender.

Pessoas inovadoras que são líderes inspiradores, não agem com ego, pois este comportamento não combina com os atuais conceitos de gestão e liderança. Ego gera descrédito e é uma atitude ultrapassada. Se um líder atua como “dono do poder” e não permite o empoderamento das pessoas é um saquarema de alma e não encanta.

O texto que escrevi não tem inspiração em nenhuma pessoa ou instituição em particular. Tem o desejo de expressar algo em que acredito: seja um “liberal” de fato, inove, inspire, respeite seu time, incentive a inovação, conecte-se com o mundo digital, construa um projeto consistente, invista no professor, seja um inovador de alma e coração. Se você leitor se sentiu incomodado, ótimo, o texto cumpriu sua função. Sou otimista e acredito que podemos inovar com planejamento, investimento e gente comprometida. Sejamos menos tolerantes com as narrativas vazias.  

Sim, as instituições nem sempre permitem todas as mudanças que desejamos, mas demonstre com atitudes o que pensa e em que acredita.           

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Desaprenda, faça conexões e planeje transformações

Hoje é dia 13 de maio de 2022, sexta-feira, e estou no aeroporto de Barcelona. Viajei para participar de um Fórum (https://forumeducahigh.com/) e aproveitei para fazer algo de que gosto: aprender e fazer conexões. Durante o voo para a Espanha comecei a ler o livro “Desaprenda”, indicado por Nizan Guanaes durante o 14º. CBESP. Já estou quase terminando a leitura. Fórum, conexões e leitura, o que aprendi com tudo isto?

Durante o Fórum ficou claro que as mudanças no setor de educação são intensas (essa percepção não é novidade). Há uma convicção de que as IES precisam avançar para modelos educacionais híbridos, focar no engajamento e no aprendizado dos estudantes, investir no professor para que tenha competências digitais e fazer a transformação digital. Conclusões: a) quem não induzir transformações que conecte a IES com o mundo digital perderá competitividade; b) as tecnologias emergentes vão impactar a forma como concebemos e organizamos a dinâmica administrativa e acadêmica das IES; c) os novos provedores de educação, que não são IES convencionais, já são nossos concorrentes. Conversei com alguns novos provedores e eles sentem que a IES convencional está de modo geral “fora do plumo” e que eles ofertam um tipo de formação mais ágil, mais conectada com o mercado, mais propicia para o mundo atual.

Conheci Alex Mora, que é responsável pela concepção e fundação da “Mataverse University”, que será lançada em setembro, em Barcelona. A proposta dele é que a “universidade” seja uma instituição de educação, que oferece um conjunto de cursos livres, que atendem à nova economia digital, em um ambiente de realiadade virtual. Será uma instituição não vinculada aos organismos oficiais. Para ele, vincular-se às normas legais do MEC significa perder tempo com burocracias e inibir mudanças ágeis. Mora entende que sua instituição irá formar pessoas para os empregos emergentes, em um mundo digital. Ele estudou transformação digital no MIT e tem uma série de estudos sobre o tema. Ele argumenta que irá proporcionar experiências de aprendizado, utilizando tecnologias imersivas, no metaverso. Vamos acompanhar o que irá acontecer e qual será o impacto  da “universidade”.

Também tive a oportunidade de conhecer a “Universitat Oberta de Catalunya” (UOC). A proposta da UOC é ser uma instituição 100% on-line, com aulas assíncronas, muito bem estruturadas. Eles possuem centros de estudos de e-learning, e-health e outros, dedicados a investigar as melhores práticas de educação on-line. A instituição nasceu do governo da Catalunha, para ampliar o acesso dos estudantes ao ensino superior, de forma virtual e com qualidade. Ouvi da reunião com gestores da UOC duas afirmações importantes que expressaram as seguintes ideias: a) não reproduzimos no on-line, uma aula remota com pouco engajamento dos estudantes, que na maioria das vezes reproduz as aulas presencias. Eles priorizam o desenho do modelo acadêmico, o que é um fator de diferenciação e aumento da competitividade; b) investimos na transformação digital, pois sabemos que isto irá nos diferenciar. A transformação digital agrega valor, melhora a gestão e ajuda a personalizar o aprendizado.

Cheguei à Espanha no dia 11 de maio e em menos de 72 horas tive a oportunidade de estabelecer bons contatos. Nos poucos momentos informais no Fórum Educa, conheci gestores de IES, empreendedores e empresários interessados na inovação e dispostos a fazer conexões. Desaprendi, conforme a proposta de Cassio Grinberg, em seu livro. Desamprendi ao conversar com gente que falou sobre marketing imersivo, com gente (novos provedores de educação) que oferece serviços ágeis e conectados com a sociedade digital e com gente que está tentando mover nossas IES, para a transformação digital.

Leitor, não vejo muitas opções para as nossas IES. Sugiro que passemos a compreender o mundo digital e a planejar as mudanças que são necessárias. Caso contrário, vamos experimentar crises internas e o valor do diploma da IES desconectada do mundo digital será menor para a sociedade e para os empregadores. A IES viverá em uma angústia permanente. Espero que estejamos abertos para desaprender a para refazer a trajetória de nossa IES, o que não significa perder a identidade.

Grato Semesp, grato MetaRed, grato Consórcio Sthem Brasil. Espero retribuir o apoio com novas ideias. Estou disposto a aprender e sei que para isso é preciso, também, desaprender.