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Há luz e valor no ensino superior

Escrevo o presente texto em São Luís do Maranhão, após participar da reunião do G7, uma das 19 Redes em que o Semesp é responsável pela fundação. O G7 é formado por 9 IES, de 6 Estados. Se contabilizarmos todas as instituições que participam das redes do Semesp, chegamos a 102 IES. Para maiores informações sobre o G7, acesse o site: https://www.g7edu.com.br/

Estou no Centro Universitário Dom Bosco (UNDB), fundada em 2002, mas que tem sua origem em um colégio infantil fundado em 1958, por duas mulheres: Maria Izabel e Maria de Lourdes. Hoje, a instituição continua sob a direção de mulheres educadoras, compromissadas, empáticas e empreendedoras. O texto poderia ser sobre o G7, uma rede com gestores compromissados com o compartilhamento, mas o foco será o compromisso da UNDB com o ensino superior.

Escrevo para compartilhar uma experiência que me surpreendeu. Eu sabia que a UNDB valoriza e investe na qualidade de seus projetos acadêmicos. Penso que há no Brasil IES iguais ou melhores que a UNDB, isto é óbvio, mas estou na instituição e me sinto motivado a escrever sobre o que estou vivenciando. Por que do meu encantamento com a instituição?

O primeiro elemento que quero destacar é o estilo de liderança. Talvez a UNDB seja uma das poucas IES brasileiras que instituiu uma governança profissional e manteve uma gestão familiar. A Reitora, professora Ceres Murad é da segunda geração da família. Há outros parentes em diferentes funções. Ela é qualificada para exercer a gestão e conhece as melhores práticas pedagógicas. É especialista em aprendizagem e metodologias ativas. A Reitora e seu time tem um estilo de liderança assertivo, possui um plano acadêmico e administrativo bem definido, estimula a inovação e mantém um diálogo saudável com os demais líderes institucionais. A IES tem um grupo de pessoas compromissadas com o projeto institucional.

O segundo fator de encantamento se refere ao modelo acadêmico. A UNDB tem um propósito acadêmico bem definido. O foco do projeto institucional está na aprendizagem, nas metodologias ativas, bem desenhas e institucionalizadas, nos projetos sociais de impacto e na cooperação com o setor produtivo. Há uma clara intensão de priorizar o aprendizado do estudante. A instituição possui consistência conceitual em suas ações acadêmicas e vínculos com os empregadores públicos e privados. É interessante ouvir dos gestores que eles não “querem dormir em berço esplêndido”, por isso, a UNDB busca constante reflexão, avaliação e renovação em seu modelo acadêmico.    

O cuidado e o investimento na capacitação do professor é o terceiro fator. O corpo docente da IES é estimulado e necessariamente passa por um processo de capacitação que insere o professor na perspectiva acadêmica da UNDB, ou seja, o docente é convidado a conhecer como o aluno aprende, a utilizar as metodologias ativas de forma correta, a dialogar com o estudante. Há um setor que planeja a capacitação semestral, que é continua e tem coerência com o modelo acadêmico.

Um quarto elemento que é preciso destacar é a perspectiva do grupo de pessoas envolvidas com o projeto. Não é a família que “manda em tudo”. Há times, há pessoas envolvidas, há capacitação das pessoas, há gente compromissada. Empoderar as pessoas é uma “estratégia poderosa”, que indica que gestão, inovação e sucesso institucional são ações coletivas.

Há outros elementos que poderiam ser destacados, como o investimento na infraestrutura, que possui um design coerente com a concepção inovadora da IES como os projetos de curricularização da extensão, que nasceram e existem em função de uma opção da IES e não de uma norma do MEC, os investimentos em tecnologia educativa e o desejo de conhecer as melhores práticas de ensino superior no Brasil e no mundo, para adaptar o que for necessário à identidade e ao propósito da UNDB. 

IES como a UNDB demonstram que há luz no ensino superior do Brasil, que há famílias compromissadas com a educação e com os melhores parâmetros do ensino superior. O sistema de ensino superior no Brasil não pode ter sua organização e dinâmica pautada exclusivamente pela visão de negócio, que é conceito legítimo. Educação supõe compromisso com gente que pensa, que tem comportamento cidadão e ético, que sabe fazer, que produz, que gera emprego e conhecimento, que tem compromisso social, entre outras competências.   

Não tenho dúvida de que há muitas IES no Brasil que representam luz, pois estão compromissadas com os melhores parâmetros do ensino superior. São instituições com histórias e perfis diferentes, mas que estão integradas pelo compromisso com a educação, em seus melhores parâmetros. 

Um exemplo de compromisso com a qualidade está no projeto que o Semesp tem com 11 IES, para construir um modelo de autoavaliação que vai além dos parâmetros do MEC. É isso aí, 11 instituições que querem “subir a régua da qualidade”. Com certeza há outras que também desejam fazer isto.

De toda forma precisamos “descobrir as boas referências de ensino superior do Brasil”. Algo que conversamos durante a reunião do G7: visitamos várias IES no mundo, talvez seja o momento de começarmos a fazer uma internacionalização inversa e convidar os colegas de outros países a virem visitar as nossas “luzes do ensino superior”.

É preciso também que façamos missões internas, para que passemos a conhecer as IES nacionais que possuem bons modelos acadêmicos e administrativos. Há muitas IES brasileiras que merecem ser visitadas, pois dão valor ao que significa ensino superior. Eu, por exemplo, estou envolvido em um projeto de inovação na FAESA, de Vitória, Espírito Santo. A instituição também é luz no ensino superior e possui uma trajetória e projetos semelhantes ao da UNDB.

Um IES dará valor ao ensino superior e será valorizada pela sociedade se seu projeto acadêmico for consistente, se priorizar o aprendizado do estudante, se valorizar o professor, se tiver relevância social e se estiver sintonizada com os melhores parâmetros do ensino superior, independente do seu tamanho e de sua capacidade de investimento financeiro. Cada IES faz o que pode e o que está coerente com sua identidade, mas é preciso ter compromisso com o que há de melhor em nosso setor.        

Faço o convite para que conheçam a UNDB, vale a pena viajar para São Luís do Maranhão e “descobrir está joia do nordeste brasileiro”, assim como vale a pena conhecer todas as IES que são luz em nosso sistema de ensino superior. 

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Políticas públicas em um ano de eleições

O Semesp, cumpre seu papel ao apresentar para o debate o documento “Diretrizes de Políticas Públicas para o Ensino Superior” (https://www.semesp.org.br/wp-content/uploads/2022/05/diretrizes-politicas-publicas-2022-digital.pdf), versão 2022. Nós estamos organizando uma série de debates, com diferentes setores da sociedade: políticos, associações representativas e especialistas no tema, tanto do setor público como do privado.

Para o Semesp é importante que o debate seja representativo e gere críticas, propostas e reflexões.  O documento que publicamos não tem a pretensão de ser definitivo. Sabemos que é um documento em construção e em um ano de eleições, precisamos de diálogo, de construção de consensos e propostas assertivas. 

Políticas públicas para o ensino superior servem para organizar o funcionamento do sistema e para criar dinâmicas e ações que tragam benefícios coletivos. No caso do ensino superior acredito que quem atua no setor privado e público almeja um sistema que permita autonomia com prestação de contas, desburocratização, respeito à identidade institucional, entre outros benefícios para o sistema.

Da mesma forma, penso que almejamos ações que ampliem o acesso, a equidade, a justiça social, o financiamento, a permanência dos estudantes em sua graduação e o emprego.

Neste sentido, suponho que há interesse da sociedade, especialmente, daqueles que atuam nas IES, pelas políticas públicas no âmbito do ensino superior. Estamos em um ano de eleições e vamos votar em deputados, senadores, governadores e para presidente. Portanto, participar dos debates, ter opinião, saber quais são as propostas para o sistema de ensino superior de cada candidato é uma atitude cidadã. É um ato de compromisso com a sociedade. É uma atitude que demonstra preocupação com o bom funcionamento do sistema. 

A pouca participação nos debates e o distanciamento dos projetos e ações que se propõem discutir e elaborar políticas públicas pode indicar desilusão e desesperança.

Políticas públicas não se fazem com uma concepção dualista do mundo, onde existe o bem e o mal, a esquerda ou a direita, o passado e o futuro, entre outras perspectivas antagônicas. Políticas públicas se fazem com conhecimento, com diálogo, com equilíbrio, com capacidade de reflexão, com elaboração de propostas, com respostas às demandas da sociedade, com estudo sobre o tema, com o desenho de um rumo (propor uma perspectiva, metas…), entre outras coisas.

O pior cenário é a ausência de políticas públicas. Uma país não pode navegar sem rumo e não irá melhorar seu sistema de ensino superior, sem diretrizes para o setor. As políticas públicas devem representar um conjunto de diretrizes que conduzem a dinâmica do sistema de ensino superior.

Políticas públicas devem representar os interesses da sociedade, não os interesses compartimentados, embora tenhamos as atuações de grupos de interesse (o que é legitimo).

Em um ano de eleição presidencial se recomenda que os gestores de IES participem dos debates sobre políticas públicas e se coloquem como agente da construção do futuro. Há muita articulação, em nosso setor, para resolver problemas no ”varejo”. Precisamos de políticas públicas com impacto de “atacado”, ou seja, que tenham amplo impacto no sistema.   

Podemos até continuar na luta pela mudança do “artigo X, da lei y”, mas devemos reivindicar mudanças no sistema de ensino superior. O ano eleitoral abre uma janela de oportunidades para as associações que atuam no setor, pois podemos elaborar propostas para melhorar o funcionamento do ensino superior, do Brasil. A diretoria do Semesp atua de forma propositiva, reconhece que é preciso instigar o debate e apresentar propostas assertivas. Em um ano de eleições majoritárias renovamos a esperança de que o sistema de ensino superior funcione de forma desburocratizada e com qualidade, diversidade,  inovação, inclusão, financiamento, valorização dos professores, da ciência, da tecnologia, dos cursos profissionalizantes, da internacionalização, das redes de cooperação, entre outros fatores essenciais para o desenvolvimento econômico e fortalecimento da melhoria de qualidade de vida de todos os cidadãos brasileiros.

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Quem não escuta os estudantes pode se “estrumbicar”

É preciso conhecer as demandas e o perfil dos estudantes, sim. De uma maneira simples, podemos afirmar que as instituições de ensino existem para formar pessoas. Elas possuem identidade, propósito e modelo acadêmico, do outro lado, os estudantes também possuem propósitos, motivações, interesses e são caracterizados por um perfil de comportamento.

O ideal é a conjunção dos propósitos e ideais entre instituições e estudantes. Isso pode acontecer quando uma instituição de ensino superior escuta seus alunos, entende o perfil e suas demandas, consegue atualizar seu modelo acadêmico sem perder a identidade, refaz formas de comunicação, se atualiza e dialoga com os jovens.

A educação supõe princípios de que não podemos abrir mão: ética, cidadania, consistência e qualidade da formação, respeito aos bens coletivos e às normas que organizam a convivência social, entre outros. Por outro lado, as instituições precisam estar atentas para possíveis atualizações e transformações que são necessárias.

Em minha formação como professor salesiano, aprendi uma expressão: “com Dom Bosco e com os tempos”. Dom Bosco, fundador da congregação salesiana foi um educador e nos dá pistas de como uma IES pode se relacionar com os jovens. Para ele, é preciso que nos mantenhamos atualizados para que possamos dar respostas às demandas dos jovens, em cada contexto histórico.

Dom Bosco não iria se “estrumbicar” em pleno 2022. Ele saberia manter a escola atualizada, pois foi um especialista em jovens. Faço algumas perguntas, pois gostaria de dialogar com o leitor: de que forma estamos dialogando com os jovens em nossas IES? Conhecemos seus propósitos e interesses? Nossos modelos acadêmicos estão atualizados e correspondem às demandas da atualidade?  

Li uma pesquisa da Anthology Advancing Knowedge, intitulada “Closing the gap to create the ideal learning experience”, realizada com 2.725 estudantes e 2.572 líderes de IES públicas e privadas, que representam 10 países. Pesquisas como essa precisam se tornar comuns em nosso ambiente. É preciso escutar os estudantes, sempre. 

Para mais de 80% dos estudantes, não há problema em terem experiências online em seu processo de formação. Destes, 25% afirmam que poderiam ter aulas unicamente online, 16% preferem cursos online, com algum tipo de encontro, 22% gostariam de cursos com momentos online e presenciais e 20% gostariam de um mix, entre ambos.  18% preferem cursos presenciais.

Na perspectiva dos gestores, 12% gostariam de organizar a IES para uma oferta exclusivamente online, 9% preferem o online com algum tipo de encontro presencial, 25% preferem uma oferta que tenha o online e o presencial, 38% uma oferta que seja um mix e 15% preferem cursos presenciais.

Pesquisas realizadas pelo Instituto Semesp em 2020 e 2021 indicaram que não há problema, na perspectiva dos estudantes, de frequentarem disciplinas online e cursos híbridos. Quando olhamos apenas a América Latina, segundo a pesquisa da Anthology, a perspectiva dos estudantes em relação à oferta de cursos que reúne o online com o presencial (híbrido) é preponderante, chega a 90%. No caso dos gestores, também é de 90%, com predomínio da preferência de cursos híbridos (38%).

Há espaço para IES que querem manter uma oferta exclusivamente presencial, mas para este perfil de instituição, provavelmente, o público é reduzido e possivelmente com um poder aquisitivo maior. De toda forma, a pesquisa aponta para a necessidade de entender as demandas dos estudantes.

É um risco manter nossas IES organizadas pela oferta, em que os gestores decidem o que oferecer e da forma como vão oferecer. Há exemplos de instituições de ensino que perderam o “bonde da história” e entram em crise, que tiveram que ser vendidas ou que simplesmente “desapareceram do mapa”. IES competitivas são organizadas pela demanda, respondem aos desafios da sociedade, se mantém atendas às mudanças culturais, tecnológicas, sociais e políticas e a partir daí conseguem se antecipar a eventuais turbulências.

O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou recentemente, a minuta “Diretrizes nacionais gerais para o desenvolvimento do processo híbrido de ensino e aprendizagem”. As diretrizes são bem-vindas, pois estão sintonizadas com diversas pesquisas e relatórios que apontam que o online e o híbrido são demandados pelos estudantes.

Obviamente, não é qualquer modelo online ou híbrido. Há um risco dos gestores das IES errarem no modelo, com propostas pedagógicas que não despertam o engajamento e o desejo do aprendizado ou que oferecem pouco suporte para o sucesso dos estudantes.

Se uma IES pretende reforçar, aperfeiçoar ou transformar seu modelo acadêmico ouça o estudante, pesquise o tema para obter mais informação e conhecimento e faça um benchmarking com IES que já obtiveram sucesso.

O futuro de uma IES estará cada vez mais atrelado a sua capacidade de dialogar com a sociedade, especialmente com o estudante. Ele não é somente um “pagador de boleto” que gera resultados financeiros para a instituição. Ele é um cliente e um cidadão, que consome um serviço, que espera ser tratado com respeito, que tem propósito, sonho e opinião. É muito provável que ele espere da instituição onde estuda ser ouvido, ter voz e ter experiências de aprendizado significativas.

Há incertezas sobre o futuro do ensino superior e uma IES não pode se dar o luxo de errar na comunicação com os estudantes e se guiar apenas pela oferta e não pela demanda e pelos propósitos dos estudantes. Nesse caso, o risco de se “estrumbicar” é grande. E por falar em escutar o estudante, o Semesp irá organizar o 24º. FNESP, com o tema “É sobre o estudante, sim! (https://www.semesp.org.br/fnesp/). Vou escrever textos sobre o tema, espero que leiam e que participem do Fnesp.

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Há uma perda de valor do ensino superior?

Somos um setor que presta serviços de educação e tem como “causa maior” formar pessoas com senso de cidadania e ética, pessoas preparadas para atuar profissionalmente e com as competências esperadas pelo setor produtivo, com a capacidade de inovar e produzir ciência e novos conhecimentos. O ensino superior forma para a vida, para o trabalho e para o desenvolvimento econômico.

O nosso maior aliado na formação das pessoas é o professor. É ele que deve engajar o estudante em seu processo de aprendizado e manter um diálogo constante com os alunos. É o professor que deve ter conhecimento e método para fomentar o aprendizado e encantar os alunos. Parece ser óbvia a afirmação, mas é verdade: boas escolas possuem bons professores. Ser um bom professor significa estar aberto ao aprendizado constante.  

Bons sistemas de ensino superior pelo mundo funcionam pautados em vários fatores: confiança; relacionamento ético entre as IES; cumprimento literal das regras do jogo; busca continua pela qualidade; foco no aprendizado; valorização dos professores; competitividade internacional em políticas públicas e Estado; entre outros parâmetros.

A palavra “bons” pode ter uma conotação subjetiva, mas há evidências de que os sistemas bem-organizados possuem os princípios indicados acima. Podemos citar países que já foram visitados pelo Semesp (Austrália, Finlândia, Dinamarca, Coreia do Sul, Singapura, Canadá, entre outros) como referências de bons sistemas.

Tenho notado um aumento de artigos na imprensa internacional sobre a perda do valor do ensino superior. Há uma percepção de que os jovens tendem a deixar de ter interesse em fazer uma faculdade. São vários fatores apontados pelos analistas: custo, falta de financiamento, medos e incertezas sobre o futuro, problemas de saúde mental, busca por outras opções de formação, horários pouco flexíveis, modelo acadêmicos rígidos, convencionais e ultrapassados, dúvidas sobre o que estudar e se haverá trabalho após o térmico da graduação, entre outros.

Nos Estados Unidos, há pesquisas que indicam um aumento em relação à dúvida sobre fazer ou não uma graduação. Há uma perda de confiança no valor do ensino superior. No Brasil, as matrículas do ensino superior presencial vêm caindo nos últimos. O crescimento do sistema é sustentando pelas matrículas no EAD, modalidade voltada para uma população mais adulta e que já trabalha.

A minha hipótese é que, sim, o ensino superior está perdendo valor na percepção dos mais jovens. Além dos fatores apontados acima, é preciso considerar que os modelos de organização administrativa e acadêmica das instituições de ensino superior impactam nesta percepção do valor. De um lado, temos modelos que valorizam o professor e o aprendizado dos estudantes, do outro, modelos exageradamente convencionais e distantes dos melhores parâmetros do ensino superior. Estes, provavelmente, vão despertar pouco interesse em relação ao ensino superior.   

O sistema de ensino superior deixa de ser bom quando há interesses de IES que se sobrepõem à ética, à confiança e ao compromisso com as normas. Talvez, o maior problema do Brasil em relação à perda do valor seja a nossa “inovação limitada” pautada em ajustes e reformas, não na ousadia e na transformação rumo aos melhores parâmetros do ensino superior.

Um sistema de educação tende a se fragilizar se a lógica do mercado prevalecer e for preponderante, já que esta estratégia demanda a geração de altos retornos financeiros para o investidor. É inquestionável o direito ao lucro, mas bons sistemas educacionais não se constroem com preponderância desta lógica, basta ver a literatura e as evidências de outros países.

Um sistema se torna bom quando as IES fomentam o aprendizado, valorizam os professores, investem em qualidade, inovação e pesquisa e possuem relevância para a sociedade e para o setor produtivo, além de ter valor social, econômico e político para o desenvolvimento do país.

Bons sistemas de ensino superior são organizados com políticas públicas que atendam as demandas da sociedade. Um sistema de educação precisa gerar empregos, conhecimento, justiça e equidade, entre outros valores sociais e coletivos.

A educação é um bem social. As IES devem existir para gerar benefícios reais e tangíveis. O futuro de nossas IES está atrelado ao bom funcionamento do sistema e ao compromisso com a ética e os melhores princípios do ensino superior.

Caro gestor, organize sua IES para maximizar os ganhos sociais e a formação dos estudantes, consequentemente haverá a maximização de outros benefícios, inclusive, o financeiro. 

Sugiro a leitura de dois artigos que escrevi sobre crises, formas de prosperar e o valor do ensino superior:

https://revistaensinosuperior.com.br/ensino-superior-prosperar/
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As prioridades refletem o contexto do ensino superior

Há temas no ensino superior que são tratados como prioridade, e eles refletem um determinado contexto. Houve um momento em que a gestão foi preponderante. Este assunto coincide com a expansão das matrículas e do número de IES, o que exigiu uma discussão mais profunda sobre capacidade de gestão e planejamento, entre outros tópicos característicos da administração. Nossas IES passaram a contratar executivos de outros setores e a investir na formação de seu pessoal.

            A expansão do FIES contribuiu com este processo e colaborou para o avanço do mercado educacional. O sistema se tornou menos diversificado e começaram a surgir modelos padronizados. Graças a isto, hoje, infelizmente, as IES parecem ser mais iguais do que diferentes.

            A tendência de homogeneização, a consolidação do mercado e a crise do financiamento público fizeram com que os temas da inovação, do professor, do empreendedorismo, entre outros, passassem a ser preponderantes em nossos debates. E as IES passaram a ser instigadas a realizar transformação digital.

            Hoje, os temas da aprendizagem, da experiência dos estudantes no ambiente das IES, do bem-estar e das competências digitais dos professores são os que preponderam. É preciso, de fato, priorizar o aprendizado dos estudantes.

            Em função da dinâmica do sistema de ensino superior, dos novos certificadores e do avanço do mercado educacional, temas como o valor do ensino superior, as redes de cooperação e a relevância social da IES também precisam estar entre as prioridades dos gestores.

            Apresento então dois artigos que buscam refletir o momento que estamos vivenciando atualmente: o valor do ensino superior e a necessidade de valorizarmos as redes de cooperação. 

            Boa leitura!

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De novo, sobre Redes de Cooperação

Se há algo por que sempre agradeço é a oportunidade de coordenar diferentes redes de cooperação. Sinto que é um privilégio porque tenho a chance de me manter conectado com várias pessoas, de conhecer experiências institucionais diversas e de ter a percepção do que dá certo ou errado em uma rede.

Estar em uma rede significa se conectar com pessoas e conversar semanalmente com gente que toma as decisões institucionais ou que participa destas. É trocar experiências, falar sobre soluções e problemas, compartilhar, aprender e ensinar, inspirar-se no outro. É manter uma relação profissional saudável e olhar o mundo além da instituição. É a oportunidade de errar menos graças ao contato com um colega ou a consulta com alguém que tem experiências a compartilhar.  

Estar em redes é resolver problemas de forma dialogada, a partir das experiências do outro. Já vi instituições de ensino resolverem problemas de plano de carreira, solucionarem problemas de TI e melhorarem processos de captação e retenção. Já testemunhei instituições de ensino aprimorarem o processo de formação de professores, suas análises e os resultados financeiros. Já acompanhei instituições de ensino repensando suas estratégias, compartilhando cursos de pós-graduação e promovendo a mobilidade de estudantes. Nesses anos de envolvimento com redes de cooperação, já vi tanta coisa boa que dá para ficar horas em uma roda de amigos contanto boas histórias.

Estar conectado em redes é conhecer as melhores formas de organização e dinâmica. É saber como se organiza uma rede e que cronograma, planejamento, compartilhamento, confiança e compromisso são palavras com significados importantes que precisam ser vivenciadas pelos seus participantes. Uma rede se constrói com assertividade, “ganha-ganha”, diálogo, perseverança e aprendizado com os inevitáveis erros.

Redes se consolidam com o tempo e, dificilmente, os resultados são imediatos. É preciso ter paciência e acreditar no processo de consolidação da mesma. Se uma rede não está dando certo, o gestor descontente tem que se perguntar: o que eu posso fazer para a minha rede avançar? Não se pode criticar uma rede sem propor soluções e alternativas para o problema percebido. Não se pode criticar uma rede sem participar de sua dinâmica. Entre outros fatores, uma rede não dá certo (sei que já escrevi sobre isso) quando:

– O gestor não participa, já que a rede não está em sua agenda de prioridades;
            – Não há uma agenda propositiva de troca de experiências. É preciso buscar convergências e ter vontade de dialogar sobre soluções e problemas institucionais;
            – Quando há mais discurso do que ações concretas. Se uma IES está em uma rede, aproveite, seja intenso.

Estou envolvido com as Redes de Cooperação do Semesp (já somos 19 redes que congregam mais de 100 IES); com a Metared (Rede ibero-americana de TI e transformação digital com mais de 800 IES públicas e privadas);  com a Realculp (Rede de Associações Nacionais da Iniciativa Privada da América Latina e Caribe com cerca 600 IES privadas); com o Consórcio Sthem Brasil (rede de inovação acadêmica com 68 IES públicas e privadas); e com a ACL (Rede de líderes de Consórcio dos Estados Unidos com mais de 50 IES públicas e privadas).

Meus caros, estou envolvido com um “mundo de redes de cooperação” e gosto muito disso. Uma das minhas missões na vida profissional talvez seja conectar pessoas e IES na busca de soluções institucionais e de melhores parâmetros para o ensino superior.

No Semesp, temos uma equipe para “cuidar do projeto de redes” (eu, Diego, Cleia e Silmara). Se as redes dão certo é porque os gestores das IES acreditam no projeto, temos gente compromissada com as redes e porque elas são uma das prioridades para o Semesp, que investe sem reservas no projeto.

Sempre me pergunto: por que a pessoa ou a IES A ou B não acredita ou não está envolvida em alguma rede de cooperação? Respondo com alguns porquês: porque não entendeu a importância da cooperação ou ainda não percebeu o benefício da rede; porque quer respostas e resultados rápidos ou não participa de forma efetiva. Tenho uma dúvida: será que ainda tem gente que nega o valor das redes de cooperação? Espero que não.