Nada se assemelha mais a um saquarema do que um luzia no poder.

A frase acima ficou famosa e foi dita pelo político pernambucano Antônio de Paula Holanda Cavalcanti de Albuquerque. Ela expressa que não há diferenças entre os saquaremas (conservadores) e os luzias (liberais). Em uma sociedade em que as informações circulam e em que as narrativas são amplamente difundidas pelas mídias sociais, um discurso liberal, muitas vezes esconde posturas conservadoras, que de fato, temem as mudanças. Em meados do século 19, quando a frase foi dita, liberais e conservadores não queriam a mudança de padrões sociais, econômicos e políticos. No presente texto, um saquarema é o gestor de uma IES convencional, que não inova, apesar da narrativa da inovação. O luzia é o gestor com vocação para inovar.   

Quem conhece meus textos sabe que gosto de provocar reflexões e, se possível, incomodar as pessoas, para tirá-las da zona de conforto. Ao fazer um olhar panorâmico sobre o ensino superior, sempre penso em algumas perguntas, para as quais não tenho respostas: será que de fato avançamos no processo de inovação? Será que enfrentamos com convicção e assertividade as resistências internas da IES? Será que de fato estamos redesenhando nossos modelos acadêmicos? Será que estamos investindo na capacitação de nossos professores com convicção e planejamento? Será que sabemos o que é inovação e estamos investindo na transformação cultural da IES? 

Em um mundo ideal, os adeptos à mudança fazem mudanças contínuas, mesmo que passo a passo. Aqueles que acreditam em inovação buscam as melhores referências em inovação, os que acreditam em redes dedicam tempo para cooperar, os que acreditam que podemos mudar a educação investindo nos professores, de fato, investem nos professores. Os líderes inovadores e empreendedores são inovadores e empreendedores no discurso, nas atitudes e no investimento, buscam informação e formação, planejam e investem.

   Há líderes que sempre justificam o porquê de não cuidar da inovação: falta tempo, falta recursos, há resistências internas, o MEC inibe e pode punir, há problemas cotidianos para cuidar, há outras atividades e agendas. Há líderes que não fazem inovação, porque não acreditam nela e talvez haja aqueles que pensam prioritariamente no resultado financeiro, não na construção de projetos acadêmicos sólidos. As narrativas estão em nosso cotidiano. Como acreditar em gente que faz discursos sobre a inovação, mas sempre tem justificativa para não fazer a inovação.

Um líder que não investe em inovação e no seu professor é um “saquarema”. Até pode se apresentar como um “luzia”, mas tem alma conservadora. Em uma sociedade em que podemos construir uma imagem de inovador pelas mídias sociais, pelos discursos, pelas pinceladas de inovação, o conservador pode através da “imagem” se apresentar como um liberal.

Gestores inovadores planejam, cuidam do projeto, investem tempo e recursos financeiros, monitoram os resultados, cuidam das pessoas, investem na formação do seu pessoal, fazem conexões, vão além de pinceladas de inovação e estão dispostos a desaprender e aprender.

Pessoas inovadoras que são líderes inspiradores, não agem com ego, pois este comportamento não combina com os atuais conceitos de gestão e liderança. Ego gera descrédito e é uma atitude ultrapassada. Se um líder atua como “dono do poder” e não permite o empoderamento das pessoas é um saquarema de alma e não encanta.

O texto que escrevi não tem inspiração em nenhuma pessoa ou instituição em particular. Tem o desejo de expressar algo em que acredito: seja um “liberal” de fato, inove, inspire, respeite seu time, incentive a inovação, conecte-se com o mundo digital, construa um projeto consistente, invista no professor, seja um inovador de alma e coração. Se você leitor se sentiu incomodado, ótimo, o texto cumpriu sua função. Sou otimista e acredito que podemos inovar com planejamento, investimento e gente comprometida. Sejamos menos tolerantes com as narrativas vazias.  

Sim, as instituições nem sempre permitem todas as mudanças que desejamos, mas demonstre com atitudes o que pensa e em que acredita.           

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