Categorias
Uncategorized

Há uma perda de valor do ensino superior?

Somos um setor que presta serviços de educação e tem como “causa maior” formar pessoas com senso de cidadania e ética, pessoas preparadas para atuar profissionalmente e com as competências esperadas pelo setor produtivo, com a capacidade de inovar e produzir ciência e novos conhecimentos. O ensino superior forma para a vida, para o trabalho e para o desenvolvimento econômico.

O nosso maior aliado na formação das pessoas é o professor. É ele que deve engajar o estudante em seu processo de aprendizado e manter um diálogo constante com os alunos. É o professor que deve ter conhecimento e método para fomentar o aprendizado e encantar os alunos. Parece ser óbvia a afirmação, mas é verdade: boas escolas possuem bons professores. Ser um bom professor significa estar aberto ao aprendizado constante.  

Bons sistemas de ensino superior pelo mundo funcionam pautados em vários fatores: confiança; relacionamento ético entre as IES; cumprimento literal das regras do jogo; busca continua pela qualidade; foco no aprendizado; valorização dos professores; competitividade internacional em políticas públicas e Estado; entre outros parâmetros.

A palavra “bons” pode ter uma conotação subjetiva, mas há evidências de que os sistemas bem-organizados possuem os princípios indicados acima. Podemos citar países que já foram visitados pelo Semesp (Austrália, Finlândia, Dinamarca, Coreia do Sul, Singapura, Canadá, entre outros) como referências de bons sistemas.

Tenho notado um aumento de artigos na imprensa internacional sobre a perda do valor do ensino superior. Há uma percepção de que os jovens tendem a deixar de ter interesse em fazer uma faculdade. São vários fatores apontados pelos analistas: custo, falta de financiamento, medos e incertezas sobre o futuro, problemas de saúde mental, busca por outras opções de formação, horários pouco flexíveis, modelo acadêmicos rígidos, convencionais e ultrapassados, dúvidas sobre o que estudar e se haverá trabalho após o térmico da graduação, entre outros.

Nos Estados Unidos, há pesquisas que indicam um aumento em relação à dúvida sobre fazer ou não uma graduação. Há uma perda de confiança no valor do ensino superior. No Brasil, as matrículas do ensino superior presencial vêm caindo nos últimos. O crescimento do sistema é sustentando pelas matrículas no EAD, modalidade voltada para uma população mais adulta e que já trabalha.

A minha hipótese é que, sim, o ensino superior está perdendo valor na percepção dos mais jovens. Além dos fatores apontados acima, é preciso considerar que os modelos de organização administrativa e acadêmica das instituições de ensino superior impactam nesta percepção do valor. De um lado, temos modelos que valorizam o professor e o aprendizado dos estudantes, do outro, modelos exageradamente convencionais e distantes dos melhores parâmetros do ensino superior. Estes, provavelmente, vão despertar pouco interesse em relação ao ensino superior.   

O sistema de ensino superior deixa de ser bom quando há interesses de IES que se sobrepõem à ética, à confiança e ao compromisso com as normas. Talvez, o maior problema do Brasil em relação à perda do valor seja a nossa “inovação limitada” pautada em ajustes e reformas, não na ousadia e na transformação rumo aos melhores parâmetros do ensino superior.

Um sistema de educação tende a se fragilizar se a lógica do mercado prevalecer e for preponderante, já que esta estratégia demanda a geração de altos retornos financeiros para o investidor. É inquestionável o direito ao lucro, mas bons sistemas educacionais não se constroem com preponderância desta lógica, basta ver a literatura e as evidências de outros países.

Um sistema se torna bom quando as IES fomentam o aprendizado, valorizam os professores, investem em qualidade, inovação e pesquisa e possuem relevância para a sociedade e para o setor produtivo, além de ter valor social, econômico e político para o desenvolvimento do país.

Bons sistemas de ensino superior são organizados com políticas públicas que atendam as demandas da sociedade. Um sistema de educação precisa gerar empregos, conhecimento, justiça e equidade, entre outros valores sociais e coletivos.

A educação é um bem social. As IES devem existir para gerar benefícios reais e tangíveis. O futuro de nossas IES está atrelado ao bom funcionamento do sistema e ao compromisso com a ética e os melhores princípios do ensino superior.

Caro gestor, organize sua IES para maximizar os ganhos sociais e a formação dos estudantes, consequentemente haverá a maximização de outros benefícios, inclusive, o financeiro. 

Sugiro a leitura de dois artigos que escrevi sobre crises, formas de prosperar e o valor do ensino superior:

https://revistaensinosuperior.com.br/ensino-superior-prosperar/
Categorias
Uncategorized

As prioridades refletem o contexto do ensino superior

Há temas no ensino superior que são tratados como prioridade, e eles refletem um determinado contexto. Houve um momento em que a gestão foi preponderante. Este assunto coincide com a expansão das matrículas e do número de IES, o que exigiu uma discussão mais profunda sobre capacidade de gestão e planejamento, entre outros tópicos característicos da administração. Nossas IES passaram a contratar executivos de outros setores e a investir na formação de seu pessoal.

            A expansão do FIES contribuiu com este processo e colaborou para o avanço do mercado educacional. O sistema se tornou menos diversificado e começaram a surgir modelos padronizados. Graças a isto, hoje, infelizmente, as IES parecem ser mais iguais do que diferentes.

            A tendência de homogeneização, a consolidação do mercado e a crise do financiamento público fizeram com que os temas da inovação, do professor, do empreendedorismo, entre outros, passassem a ser preponderantes em nossos debates. E as IES passaram a ser instigadas a realizar transformação digital.

            Hoje, os temas da aprendizagem, da experiência dos estudantes no ambiente das IES, do bem-estar e das competências digitais dos professores são os que preponderam. É preciso, de fato, priorizar o aprendizado dos estudantes.

            Em função da dinâmica do sistema de ensino superior, dos novos certificadores e do avanço do mercado educacional, temas como o valor do ensino superior, as redes de cooperação e a relevância social da IES também precisam estar entre as prioridades dos gestores.

            Apresento então dois artigos que buscam refletir o momento que estamos vivenciando atualmente: o valor do ensino superior e a necessidade de valorizarmos as redes de cooperação. 

            Boa leitura!

Categorias
Uncategorized

De novo, sobre Redes de Cooperação

Se há algo por que sempre agradeço é a oportunidade de coordenar diferentes redes de cooperação. Sinto que é um privilégio porque tenho a chance de me manter conectado com várias pessoas, de conhecer experiências institucionais diversas e de ter a percepção do que dá certo ou errado em uma rede.

Estar em uma rede significa se conectar com pessoas e conversar semanalmente com gente que toma as decisões institucionais ou que participa destas. É trocar experiências, falar sobre soluções e problemas, compartilhar, aprender e ensinar, inspirar-se no outro. É manter uma relação profissional saudável e olhar o mundo além da instituição. É a oportunidade de errar menos graças ao contato com um colega ou a consulta com alguém que tem experiências a compartilhar.  

Estar em redes é resolver problemas de forma dialogada, a partir das experiências do outro. Já vi instituições de ensino resolverem problemas de plano de carreira, solucionarem problemas de TI e melhorarem processos de captação e retenção. Já testemunhei instituições de ensino aprimorarem o processo de formação de professores, suas análises e os resultados financeiros. Já acompanhei instituições de ensino repensando suas estratégias, compartilhando cursos de pós-graduação e promovendo a mobilidade de estudantes. Nesses anos de envolvimento com redes de cooperação, já vi tanta coisa boa que dá para ficar horas em uma roda de amigos contanto boas histórias.

Estar conectado em redes é conhecer as melhores formas de organização e dinâmica. É saber como se organiza uma rede e que cronograma, planejamento, compartilhamento, confiança e compromisso são palavras com significados importantes que precisam ser vivenciadas pelos seus participantes. Uma rede se constrói com assertividade, “ganha-ganha”, diálogo, perseverança e aprendizado com os inevitáveis erros.

Redes se consolidam com o tempo e, dificilmente, os resultados são imediatos. É preciso ter paciência e acreditar no processo de consolidação da mesma. Se uma rede não está dando certo, o gestor descontente tem que se perguntar: o que eu posso fazer para a minha rede avançar? Não se pode criticar uma rede sem propor soluções e alternativas para o problema percebido. Não se pode criticar uma rede sem participar de sua dinâmica. Entre outros fatores, uma rede não dá certo (sei que já escrevi sobre isso) quando:

– O gestor não participa, já que a rede não está em sua agenda de prioridades;
            – Não há uma agenda propositiva de troca de experiências. É preciso buscar convergências e ter vontade de dialogar sobre soluções e problemas institucionais;
            – Quando há mais discurso do que ações concretas. Se uma IES está em uma rede, aproveite, seja intenso.

Estou envolvido com as Redes de Cooperação do Semesp (já somos 19 redes que congregam mais de 100 IES); com a Metared (Rede ibero-americana de TI e transformação digital com mais de 800 IES públicas e privadas);  com a Realculp (Rede de Associações Nacionais da Iniciativa Privada da América Latina e Caribe com cerca 600 IES privadas); com o Consórcio Sthem Brasil (rede de inovação acadêmica com 68 IES públicas e privadas); e com a ACL (Rede de líderes de Consórcio dos Estados Unidos com mais de 50 IES públicas e privadas).

Meus caros, estou envolvido com um “mundo de redes de cooperação” e gosto muito disso. Uma das minhas missões na vida profissional talvez seja conectar pessoas e IES na busca de soluções institucionais e de melhores parâmetros para o ensino superior.

No Semesp, temos uma equipe para “cuidar do projeto de redes” (eu, Diego, Cleia e Silmara). Se as redes dão certo é porque os gestores das IES acreditam no projeto, temos gente compromissada com as redes e porque elas são uma das prioridades para o Semesp, que investe sem reservas no projeto.

Sempre me pergunto: por que a pessoa ou a IES A ou B não acredita ou não está envolvida em alguma rede de cooperação? Respondo com alguns porquês: porque não entendeu a importância da cooperação ou ainda não percebeu o benefício da rede; porque quer respostas e resultados rápidos ou não participa de forma efetiva. Tenho uma dúvida: será que ainda tem gente que nega o valor das redes de cooperação? Espero que não.