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Redes de cooperação, uma questão de sobrevivência

O Semesp participou da 49ª Conferência Anual da Association for Collaborative Leadership (ACL),  realizada em Albany, New York, entre os dias 18 e 20 de outubro. A ACL é uma associação que, entre outros objetivos, visa apoiar, empoderar ecompartilhar experiencias entre os diferentes consórcios de instituições de ensino superior (IES) dos EUA.

O Semesp é associado da ACL e foi convidado a participar do encontro. A novidade de 2017 foi a apresentação das Redes de Cooperação organizadas pelo Semesp. Apresentamos, através de um Poster, nossa experiência no Brasil. A apresentação gerou boa surpresa, pois em aproximadamente um ano já são seis Redes formadas, em diferentes estágios de implantação, que já acumulam resultados com impactos para  as instituições participantes.

Tais impactos são explicados pela cooperação efetiva entre as IES, que só se tornou possível graças à confiança adquirida entre as pessoas que participam das Redes. Aliás, a confiança é uma palavra chave em processos de colaboração e explica o sucesso dos diferentes consórcios ou redes que são associados à ACL. 

Após cada debate a conclusão era que a redes criam sinergias, geram economia, adquirem escala, ganham força, e nossa crença é de que é preciso organizar mais e mais Redes de Cooperação no Brasil. Essa tem sido uma das funções do Semesp: colaborar com a sustentabilidade e com o sucesso de seus associados.

Durante as apresentações ocorridas no encontro da ACL, um tema recorrente que causou bons debates foi exatamente a construção de confiança. Aliás, cabe frisar, a confiança nas redes não é entre instituições, mas sim entre pessoas. Seria possível então as instituições de ensino superior (ou mesmo as associações representativas do ensino superior) cooperem sem que exista confiança entre seus participantes? A nossa resposta é: não. A confiança é conquistada, e isso é um processo. Requer esforços, encontros, tolerância. Assim, a confiança ocorre quando há bons propósitos entre as  pessoas das diferentes instituições envolvidas. Em Albany, conversamos sobre ética e compromisso de compartilhar projetos, custos e estratégias, e sobre as funções da ACL.

Aliás, por que existe uma associação para fomentar a cooperação no ensino superior? Nossa resposta: para integrar instituições que efetivamente querem ter relevância e impacto na sociedade. A cooperação é entendida como um dos caminhos para a melhoria dos processos acadêmicos e administrativos. As IES que participam da ACL declararam não apenas o propósito, mas mostraram resultados, metricamente auferidos, de economia financeira, de melhoria da sustentabilidade institucional e aumento na qualidade dos serviços oferecidos aos estudantes e à sociedade. Nesse sentido, há uma evidente convergência com a proposta das Redes de Cooperação do Semesp.

O Semesp acredita na formação de Redes, e as estimula, como uma importante estratégia de estabelecer conexão, compartilhar experiências bem e mal sucedidas, fazer benchmaking e, por que não?, trazer alguns questionamentos. Como, por exemplo: será que ainda acreditamos que uma IES conseguirá ser competitiva ao manter-se isolada e continuar fazendo as mesmas coisas que sempre fez, para preservar a “tradição”?

A Conferência iniciou-se com uma conversa entre reitores de três IES norte-americanas. Houve convergência entre dirigentes: os consórios ou redes qualificam os processos acadêmicos e administrativos da instituição. Para os reitores, manter-se isolado é optar pelo enfrentamento de uma série de desafios que podem “custar” o sucesso e, portanto, o futuro da instituição. A opção é clara: as redes agregam valor. 

Fica claro que o sucesso de uma rede está diretamente relacionado à capacidade de gestão e liderança. Não é apenas o reitor ou os dirigentes máximos que devem cuidar da dinâmica das redes. As responsabilidades devem ser compartilhadas entre as pessoas nomeadas e reconhecidas pela instituição, como responsáveis e líderes das redes.  Outro fator de sucesso é a capacidade de a rede estabelecer um plano estratégico de atuação, acompanhado em sua execução com o devido folow up, que é a verificação dos resultados via métricas predefinidas.

Durante a Conferência da ACL, retomamos a discussão sobre a trilha que cada Rede de Cooperação do Semesp deve seguir para obter sucesso.

Nossa sugestão é:

·         Saiba por que participar da Rede. Participe com convicção e compromisso. Uma Rede de Cooperação não é uma ação entre amigos, mas de pessoas engajadas que se propõem a colaborar umas com as outras com instinto de auto preservação.

·         Organize a gestão da Rede e tenha uma liderança para “fazer as coisas acontecerem”, lembrando que, certas vezes, liderança não está necessariamente associada ao cargo.

·         Estabeleça um plano com objetivos bem definidos e com métricas claras e predefinidas.

·         Avance no processo de cooperação, compartilhamento e redução de custos, sempre respeitando o ritmo de cada IES e das pessoas envolvidas para o sucesso da Rede.

·         Comunique os bons resultados na instituição e na sociedade, e lembre-se de que comunicar não é apenas informar, mas compartilhar e relacionar-se.

·         Compartilhe as experiências vividas, tantas as exitosas quanto as mal sucedidas, pois é isso que manterá a Rede viva e dinâmica.

·         Fortaleça a relação de confiança entre todas as pessoas envolvidas na Rede de Cooperação.  Promova o encontro entre pessoas: o convívio leva à confiança.

O Semesp que ser uma referência em organização de Redes de Cooperação e interagir e apoiar outras redes existentes ou em formação no Brasil e no mundo. O diálogo entre diferentes iniciativas é necessário. A experiência internacional demonstra isso.

Ao organizar as Redes de Cooperação, o Semesp quer colaborar com o sucesso de seus associados e contribuir de forma efetiva para melhorar e fortalecer o sistema de ensino superior do Brasil.

Participar da ACL é uma grande oportunidade, pois permite networking com diferentes pessoas, conhecer iniciativas e ter aprendizado institucional. Nosso objetivo é avançar sempre, e ao mesmo tempo respeitar as identidades e os ritmos institucionais. Com a participação na Conferência da ACL, o projeto do Semesp ganha projeção internacional. Mas, muito mais que isso, ganha experiência, aprendizado e parceria com outras redes.

Referindo-se à participação do Semesp na ACL, nosso Diretor Executivo, Rodrigo Capelato, afirmou: “Isso é um trabalho incrível, que vai possibilitar um salto para as IES participantes. E é só o começo. Espero um dia ver a ideia disseminada como cultura no nosso setor, assim como já é, há muitos anos, nas universidades americanas”. 

Esse é o nosso desejo, e de todas as pessoas que estão envolvidas com as Redes de Cooperação do Semesp, que acreditamos serão um importante fator de sobrevivência e fortalecimento de nossas IES.

Fábio Reis é  Diretor de Inovação e Redes

de Cooperação do Semesp e Professor do Unisal

João Otávio B. Junqueira é Diretor de Relações

Institucionais do Semesp e Reitor do Unifeob.


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Mudanças significativas no ensino superior: quem viver, verá.

Fábio José Garcia dos Reis

As organizações erram quando não percebem que há mudanças significativas nos ambientes em que atuam. A História nos ensina que as organizações que mais rápido se adaptam às novas realidades econômicas, sociais, culturais, tecnológicas e de concorrência obtiveram sucesso.

As instituições de ensino superior (IES) são organizações acadêmicas que, ao longo do tempo, demonstram resistências às mudanças, em função da fragilidade das lideranças, da postura conservadora perante as novas realidades, do corporativismo acadêmico e da permanência de concepções de “universidade” elaboradas no século XIX e início do XX. É que preciso repensar essa concepção e atualizá-la, em função da dinâmica do século XXI.

Há anos leio, visito IES no Brasil e em diversos lugares no mundo e converso com pessoas que se dedicam a pesquisar o ensino superior. Fui instigado a escrever esse texto, após algumas leituras interessantes. Eu gostaria de sugerir a leitura de livros de diferentes autores (inclusive de correntes de pensamento divergentes). Recomendo a leitura de “Universidade em ruínas na república dos professores”, organizado por Hélgio Trindade; “Dinossauros, gazelas e tigres”, organizado por Victor Meyer e J. Patrick; “A aventura na universidade”, de Cristovam Buarque, “A universidade inovadora: mudando o DNA do ensino superior de fora para dentro”, de Clayton Christensen e Henry Eyring; “Ensino híbrido”, organizado Lilian Bacich, Adolfo Neto e Fernando Trevisani; “Los nuevos modelos universitários en América Latina”, de Claudio Rama, “Guiar el Mercado”; organizado por José Joaquin Brunner, “Sustaining change in Universities”, de Burton Clark; “Change.edu, rebooting for the new talent economy” de Andrew S. Rosen; “The end of college: creating the future of learning and the university of everywhere”, de Kevin Carey e “Organizações sustentáveis na educação superior”, organizado por Fábio Reis. São livros que discutem as mudanças e as novas dinâmicas no ensino superior e apresentam cases de IES que realizaram mudanças significativas.

Farei comentários sobre alguns artigos dos últimos três livros indicados. Maurício Garcia escreveu um capítulo no livro sobre organizações sustentáveis, lançado em setembro de 2015. O título é “Estamos na terceira onda do ensino superior?”. Garcia fez algumas afirmações em que ele previa que “o grande ativo das instituições no futuro não será seu material didático, nem seu corpo docente. Será sua capacidade de ter uma comunidade virtual engajada” (…) “o que os grandes providers de conteúdo virtual do mercado vão fazer? Hoje, quando discutimos educação, falamos sobre instituições de ensino superior. Mas… e quem não é uma instituição? O que pode significar se o Google quiser entrar no mercado de educação? Ou a Apple? Ou a Amazon? Ou seja, se, em vez de serem providers, eles quiserem ser players?”.

Ao abrir o meu e-mail, no último final de semana de janeiro de 2016, deparo-me com uma mensagem (enviada para algumas pessoas) de Maurício Garcia com o título “How Amazon could destroy college as we know it?” (clique aqui para visualizar). Garcia enviou um link com um artigo publicado por Alexander Holt, em que o fundador e CEO da Amazon, Jeffrey Bezos prevê que “ the future of Amazon University is Strong as we continue to become the first truly global university. As our alumni network and reputation with customers and employers grow, we predict increasing demand for our services. We are excited about the future of a more educated, less indebted citizenry”. Bezos projeta uma Universidade global que tenha como princípios acesso, qualidade, baixo custo e tecnologia.

A capacidade de inovação e de soluções tecnológica de empresas como Amazon, Apple e Google é muito superior a das nossas IES. Garcia termina o capítulo afirmando que “tudo indica que ainda teremos grandes mudanças pela frente, mas é difícil prever” (set/2015). O e-mail (jan./2016) termina com a seguinte frase “quem viver, verá”. Caro leitor, o que você pensa sobre as questões colocadas por Garcia? Quais seriam as estratégias diante dessa nova realidade? Hoje, estamos preocupados com financiamento, com a concorrência e com a atuação dos grandes grupos educacionais. Caro leitor, além de todas essas preocupações, você já projetou a sua IES para 2020 e já começou o desenho para 2030?

Eu ganhei o livro “Change.edu”, de Antonio Carbonari. Quem atua no ensino superior sabe que ele é um dos empreendedores do setor. Carbonari fez a seguinte afirmação, quando me entregou o livro: “Fábio, sei que você estuda tendências educacionais, aqui está um livro sobre o futuro do ensino superior”. No ultimo capítulo, “The learning playbook: 2036 and coming twenty-five years of change in higher education”, Andrew Rosen aponta sete tendências:

  1. os sistemas educacionais serão mais Mobile e os avanços tecnológicos vão permitir que as diversas formas de ensino online tornem-se superiores ao do ensino unicamente face to face, em número de matriculados e em qualidade. Os nichos face to face vão permanecer;
  2. o ensino será mais desagregado ou fragmentado, pois os estudantes vão querer vivenciar diversas experiências de aprendizado, via cursos abertos e cursos específicos, por exemplo. Os estudantes vão optar por escolas flexíveis em seu modelo curricular;
  3. o ensino será mais personalizado, pois os estudantes vão fazer opções de trajetória, na formação escolar. Eles irão para a escola e terão a oportunidade de construir a sua carreira de graduação, a partir de diferentes possibilidades temáticas. O professor será um coach, um mentor que orienta o aprendizado, uma pessoa que ajudará os estudantes a elaborarem seus projetos e seus objetivos de aprendizado;
  4. haverá um foco maior na avaliação da aprendizagem. Haverá mais preocupação com o engajamento dos estudantes, com a eficiência do aprendizado e com as estratégias que possibilitam os estudantes aprenderem. O crucial será tornar o aprendizado algo significativo;
  5. a educação será mais acessível, o que permitirá pessoas de diferentes culturas e lugares do mundo terem acesso a ofertas educacionais com custo menor e com qualidade reconhecida pelos agentes reguladores e pela sociedade;
  6. o ensino será mais global, em função do avanço do ensino virtual, das redes de cooperação, das facilidades de deslocamento das pessoas e da própria presença de novos players nos sistemas educacionais;
  7. o ensino será mais agradável e interessante, o que favorecerá o engajamento dos estudantes. Dispositivos eletrônicos, diversidade de aplicativos, games, aprendizagem ativa em ambientes virtuais, entre outros processos facilitados pela tecnologia tornarão a educação menos burocrática, repetitiva e desmotivadora.

Em “The end of College”, Kevin Carey, ao escrever sobre a universidade de qualquer lugar, acredita que o ensino superior move rapidamente para o modelo híbrido, em que os estudantes não deixarão de ir para as IES em alguns dias durante a semana ou mês. Os recursos educacionais estarão disponíveis em ambientes virtuais, de forma ampla. Carey acredita que as IES vão manter links de cooperação para viabilizar a troca de recursos acadêmicos que colaboram com o aprendizado dos estudantes. A ideia de admissão será anacrônica, pois o ensino superior será aberto e acessível. As IES estarão abertas para qualquer pessoa, de qualquer lugar. Ele cita os exemplos de MIT e Harvard, que disponibilizam cursos e recursos educacionais gratuitamente.

Kevin acredita que as IES vão oferecer diversos tipos de cursos de formação e em função da flexibilidade e da mudança do conceito de currículo, os estudantes poderão compor sua formação de graduação, em diferentes instituições. Os ambientes de aprendizagem serão sofisticados e personalizados, portanto, as informações sobre a vida acadêmica do estudante, sobre suas dificuldades de aprendizado e sobre suas experiências pedagógicas na instituição serão acompanhadas por plataformas de aprendizagem com alta capacidade de gerar informações sobre a vida acadêmica dos estudantes.

As pessoas tendem a manterem-se matriculadas em uma ou mais instituição ao longo da vida, pois haverá uma percepção de que será necessário aprender a aprender continuamente. As IES deverão tornarem-se especialistas em relações entre as pessoas e terão que facilitar e instigar o relacionamento das pessoas. A diversidade terá que ser respeitada.

Os ambientes de aprendizagem vão mudar de forma significativa. A “Universidade de qualquer lugar” terá centros de ensino e aprendizagem interdisciplinar, em que as pessoas vão engajar-se em projetos significativos e criar redes de cooperação e aprendizado coletivo. Nesse contexto, o papel do professor irá mudar radicalmente, da mesma forma, a tecnologia vai impactar de forma significativa a forma como nós conhecemos o ensino superior hoje.

Caro leitor, procurei juntar todas as reflexões propostas pelos autores dos livros que apresentei e fiz um breve panorama. Eu não tenho dúvida de que haverá mudanças significativas no ambiente do ensino superior, que vão além da aprendizagem e das metodologias ativas.

As IES que não conseguirem perceber as novas realidades tornar-se-ão obsoletas e perderão sua competitividade. Cabe aos líderes institucionais serem os agentes da mudança organizacional, para que a IES possa realizar as transformações que a tornem contemporânea e alinhada com as dinâmicas do século XXI, sem cair na armadilha dos modismos e da perda de sua identidade e de seu papel social. Ele apresenta de forma transparente as perspectivas institucionais.

Os bons líderes de IES possuem a capacidade de se manterem atentos aos resultados financeiros e acadêmicos do presente sem deixarem de estar sintonizados com o que há de relevante no ensino superior. Nós, líderes e estudiosos do ensino superior, precisamos estar atentos ao que estar por vir. Se a previsões de mudanças citadas acima se concretizarem, teremos um ambiente de ensino superior bem diferente do que temos hoje. Como escreveu Garcia, “quem viver, verá”.

PS: Maurício Garcia é Vice-Presidente Acadêmico da DeVry Brasil e uma pessoa engajada no debate sobre a dinâmica do ensino superior do Brasil.