Open University e a pedagogia da justiça social

                                                    Fábio Reis

Já fiz minha “profissão de fé” e declarei que acredito na inovação acadêmica como um das soluções para o sucesso da IES e como uma forma de sintonizar a instituição com as demandas e desafios do séc. 21.

Também tenho outras percepções sobre o ensino superior, entre elas: a) dedicamos tempo no aperfeiçoamento da gestão, no uso de modelos de aprendizagem e de metodologias e em mecanismos de retorno financeiro, o que é legitimo e necessário, mas, de modo geral, deixamos para um segundo plano a inserção de temas sociais nas estratégias institucionais.  b) a educação tem um papel social, portanto, investir tempo e recursos em temas como igualdade, equidade, inclusão e justiça é função de uma IES;

Priorizar a inovação, a gestão, as metodologias de aprendizagem, as tecnologias, a busca pelo retorno financeiro não pode representar uma possível falta de cuidado com os temas sociais. Acredito que uma IES pode se transformar através da inovação acadêmica, mas a IES é, acima de tudo, uma instituição de educação que possui um papel social.

O leitor, gestor de IES, pode estar pensando: Fábio, já investimentos em diversas atividades, e às vezes assumimos ações e custos que provavelmente deveriam ser do poder público. Pode ainda pensar: Fábio, temos bons projetos de extensão, em todos os nossos cursos de graduação, portanto, cumprimos o nosso papel social.

Minhas respostas para as dúvidas hipotéticas: temos carências de políticas públicas no Brasil e um cenário de aumento da pobreza. De fato, há situações em que a IES assume funções do poder público, por outro lado, é preciso reconhecer que a instituição está inserida em uma sociedade que possui uma série de carências e que cabe às instituições de educação contribuir para a solução de problemas sociais. Também precisamos entender que as atividades de extensão não podem ser para cumprir uma determinação do MEC, não podem ser fluídas e de pouco impacto.

Para sustentar a minha argumentação, cito o exemplo da Open University, da Inglaterra. A Open se tornou parceira do Consórcio Sthem Brasil e, no dia 25 de maio, organizou um workshop para mais de 250 professores, de 64 IES públicas e privadas.

Por que meu exemplo é a Open? Primeiro, pode ser uma universidade com 175.000 mil estudantes, de diferentes países, que defende a pedagogia da justiça social. Segundo, porque a Open tem um projeto acadêmico sólido, que supõe novas tecnologias, metodologias de aprendizagem, diferentes formas de avaliação, trabalho colaborativo, mas que também prioriza um modelo acadêmico pautado na justiça social, da igualdade, na equidade e no acesso.

Na Open, a inovação acadêmica está associada ao que eles chamam de pedagogia da justiça social, que significa um conjunto de atividades que privilegiam o respeito à diversidade, a inclusão, a equidade e a busca constante de remover as discriminações. Os estudantes são empoderados e convidados a participarem da revisão do currículo.

O fato é que uma IES tem responsabilidades sociais. A curricularização da extensão não pode ser pensada como algo formal, para cumprir uma norma do MEC. Acredito em IES que possuem compromissos com a inserção social e com a extensão.

Uma instituição de educação que se torna relevante apenas para o mercado de trabalho ou para os empregadores, provavelmente, falha na formação integral dos estudantes, forma pessoas sem vínculos com temas sociais, o que pode favorecer posturas de discriminação, exclusão, visão elitista, falta de compromisso em resolver problemas de injustiças sociais. 

Ao acompanhar o workshop organizado pela Open University para o Consórcio Sthem Brasil, logo pensei: que incrível, uma IES 100% on-line declarar e tornar realidade projetos justiça social no currículo, de forma transversal, de forma tão consistente. Espero que o mundo do ensino superior seja “dominado” por IES relevantes, sólidas em seus projetos acadêmicos, compromissadas com temas sociais e interessadas em pesquisas de impacto.      

Fábio Reis: Diretor de Inovação e Redes do Semesp, Presidente do Consórcio Sthem Brasil, Secretário Executivo da MetaRed, Diretor de Inovação Acadêmica da Unicesumar, professor do Unisal.                   

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