PROSPECTIVA 2021: temas relevantes para a IES

PROSPECTIVA 2021: temas relevantes para a IES

Ana Valéria S. A. Reis
Fábio Reis

Leitor, você que atua na educação, em especial no ensino superior, e
ocupa uma função que requer tomada de decisão para planejar, qual a sua prospectiva para 2021? Sugiro que coloque no papel e discuta com os líderes da IES as visões e cenários para o próximo ano. A atividade pode ser realizada após a leitura de documentos e livros que fazem prospectivas para 2021.


Com base em leituras, em especial, nos documentos da Educause
(www.educause.edu), escrevemos a nossa prospectiva de 2021 e apontamos 11 temas que são relevantes e que no nosso ponto de vista irão impactar as IES. Esperamos gerar polêmicas, reflexões e diálogos. Esperamos que os gestores escrevam os seus temas relevantes para 2021, afinal, o gestor terá de saber dar respostas para os desafios do ano que está por vir.


1- A pandemia continuará a afetar a organização e a dinâmica das
IES – Parece obvio, mas é preciso reafirmar a necessidade de
qualificarmos a oferta acadêmica da IES.

Não podemos começar 2021 com falhas e problemas apresentados em 2020. Gestor, como você irá aperfeiçoar as aulas remotas? Que tipo de capacitação você irá oferecer aos professores em janeiro? Como será a comunicação com os estudantes? O ensino remoto precisa ser uma prática que é o resulto de um plano institucional, em que os professores exercem uma função estratégica.

Por outro lado, sabemos que a captação de novos estudantes poderá ser pior do que o início de 2020 e que a crise econômica que estamos vivenciando não será superada no primeiro semestre.

Recomendamos que os gestores dediquem tempo
de reflexão no mês de janeiro para planejar o ano letivo, em um
contexto de continuidade da pandemia. Sugerimos que os gestores
busquem soluções coletivas no enfrentamento da pandemia, sejam
solidários e encontrem alternativas para que o aprendizado dos
estudantes seja efetivo.

2- Carência de políticas públicas e continuidade das crises – As
políticas públicas serão consistentes se a sociedade se organizar. É
pouco provável que o MEC proponha mudanças significativas no
sistema de ensino superior. Infelizmente, a tendência é que a
mudanças no setor sejam no “varejo”, em questões pontuais.

Faltam dois anos para a eleição para presidente e, em breve, entraremos em uma intensa agenda política, num contexto de pandemia e crise financeira. Dificilmente teremos uma política de financiamento estudantil, que permita a ampliação do acesso, por exemplo. As associações que atuam no ensino superior precisam intensificar o diálogo e as sinergias e se tornarem agentes propositivos de políticas públicas. As associações devem fortalecer o vínculo e o apoio ao Conselho Nacional de Educação. A pouca assertividade das associações acarretará a “normalidade do sistema”, ou seja, “o mais do mesmo”.

3- Sobrevivência da IES – Obviamente, em um cenário de crise, a
prioridade é manter a IES solvente, funcionando e oferecendo os
serviços educacionais com qualidade. Medidas econômicas, de corte
de custo precisam ser tomadas.

Captação, evasão, inadimplência são temas cotidianos. Façamos uma analogia: cortar custos é semelhante a realizar uma operação bem sucedida. O principal “negócio” da IES é a educação, exercida através da formação de estudantes, em cursos de graduação e pós-graduação. A perda da qualidade na oferta educacional é o maior perigo e pode levar a IES a “entrar em um estado de contínua falência dos seus órgãos e, consequentemente, a morte”. É nesse momento que a IES precisa tomar decisões pautadas em números e em evidências. É urgente que as IES façam mudanças em seus modelos de gestão (para aquelas que ainda não fizeram) e se transformem rapidamente em IES com gestão profissionalizadas.

4- Colaboração, sinergias e consórcio entre IES – Provavelmente,
em 2021, será o ano da consolidação das redes de cooperação. Não
vemos outra saída, em um cenário de crises, que não seja através
das sinergias entre as IES. Será necessário diminuir custos e rever
estratégias.

Definitivamente, a IES que atua de forma isolada
precisará sair da concepção do “aqui fazemos assim” ou “aqui temos
um caminho próprio”, para o “nós vamos colaborar, apreender,
reaprender, cooperar, construir de forma conjunta, planejar juntos”.
Será preciso desprendimento, para integrar os setores
administrativos das IES. Quanto mais tempo as pessoas que tomam
as decisões nas IES demorarem para perceber que é preciso criar
mecanismos efetivos de colaboração, maior será a perda financeira.
Os vendedores de mercadorias querem ampliar seus negócios e
terem volume nas vendas. As redes podem oferecer as duas coisas
para as empresas fornecedoras.

Esperamos que tanto as IES públicas como as privadas, assumam definitivamente, a colaboração como estratégia. Se o mantenedor não colocar na agenda em 2021, o diálogo com outras IES, para fins de cooperação, ele será um dos corresponsáveis por uma possível crise institucional.

5- Avanço de novos modelos acadêmicos e administrativos – A
gestão das IES será semelhante a de uma empresa complexa, que
possui diferentes áreas, mas que precisa criar ou consolidar sinergias
sistêmicas. Novos modelos precisam gerar eficiência e, se possível,
conforme a vocação da IES, retorno financeiro.

A gestão mais horizontal e menos hierárquica e o processo de decisão ágil irão melhorar a performance institucional. Gestores que querem inovar terão que substituir o “eu decido” pelo “nós decidimos e nós nos comprometemos”. Líderes centralizadores não vão criar sinergias entre as pessoas, vão gerar medo, em um mundo em que buscamos significado e causas para nos empenharmos. Haverá modelos de administração em que as áreas estarão integradas e um curso de graduação não será planejado com a mesma concepção curricular e infraestrutura.

6- Reputação e relevância do ensino superior – Sabemos que o
diploma do ensino superior é um fator que colabora com o aumento
do salário e da empregabilidade. Por outro lado, o diploma pelo
diploma, perderá o sentido e, com ele, as IES sem projetos
institucionais relevantes poderão entrar em estado de perigo de
serem vendidas ou extintas.

A crise econômica, a concorrência e o avanço do mercado educacional são fatores que podem empurrar para o abismo diversas IES, que se tornarão insolventes. As IES terão de definir um projeto acadêmico alinhado com a atualidade, que atenda à demanda da sociedade e, principalmente, que atenda ao perfil e às demandas dos jovens, sem cair na armadilha da “inovação oba oba”. Reputação e relevância se constroem com resultados tangíveis e intangíveis, com cooperação com a sociedade, com propostas acadêmicas consistentes e com o alinhamento com as melhores práticas do ensino superior, de forma consistente, não com arranjos superficiais e pinceladas de inovação. O relacionamento com os egressos é primordial para manter diversos tipos de vínculos, mas também para verificar a relevância da IES para os ex-alunos.

7- Projeto acadêmico bem definido – Os gestores da IES precisam ter projetos acadêmicos bem definidos e institucionalizados. Na IES,
todos precisam saber falar sobre a identidade acadêmica. Todos,
porque a identidade é a alma da IES. A identidade acadêmica não é
um problema da área acadêmica. É o “negócio central da IES, que
move coração e mentes”. Um projeto acadêmico supõe um currículo,
que não pode ser uma sequência de disciplinas organizadas em uma
matriz.

O currículo é a expressão do que a IES propõe para a
formação do estudante. O currículo dá sentido à vida acadêmica do
aluno. Se for um currículo flexível e por competência, provavelmente,
estará sintonizado com as boas referências do ensino superior.
Recomenda-se “nano degrees”, certificações intermediárias e
valorização do aprendizado ao longo da vida. Outro tema relevante
no modelo acadêmico é o da avaliação.

As IES ainda resistem em implementar processos de avaliação contínuos e com critérios bem definidos, com foco no aprendizado e nas competências. De modo geral, permanecemos tradicionais e achamos que o aluno aprende quanto tira a nota 10 na prova ou 5,35 em uma avaliação.

Recorremos a padronizações pouco inovadoras, para facilitar
contagens e verificar possíveis aprendizados. Espera-se que a IES
tenha um plano para a permanência do egresso na instituição. Se a
instituição optar pelo uso dos 40% de EAD, que não se aproxima do
que nós conhecemos como híbrido, será preciso definir muito bem o
projeto.

De toda forma, a IES tem de anunciar e explicitar o seu
modelo acadêmico. Se a IES utilizar disciplinas on-line ou o modelo
hyflex, por exemplo, é preciso declarar o porquê e explicar qual é a
concepção da proposta. Um modelo acadêmico não pode ter como
referência exclusiva o resultado financeiro. Por outro lado, um
modelo acadêmico recheado de horas atribuídas não é sinal de
sucesso. Portanto, caro leitor e gestor, tenha sabedoria, para fazer os
investimentos que são necessários na área acadêmica, em 2021.

8- Corpo Docente – o professor continuará a ter um papel central no
sucesso da IES. Uma IES pode aperfeiçoar seu modelo de gestão
em 2021, mas não obterá os resultados esperados se não tiver
professores engajados, motivados e capacitados para atuarem com
tecnologias digitais. A IES deverá ter um plano de investimento na
capacitação docente, a longo prazo. O chatbot não substituirá o
docente. Por outro lado, o docente terá de estar disposto a novos
aprendizados e a rever seu modelo de aula. Há uma evidente
mudança do perfil e da prática docente. Aqueles que não estiverem
dispostos ao aprendizado e a rever suas práticas, provavelmente,
serão dispensados de suas funções. Espero que mesmo nas
universidades públicas, o país crie mecanismos para incentivar ou
punir os professores insensíveis a qualquer mudança da prática
pedagógica. Espera-se que os cursos de licenciatura passem por
mudanças, para que formem professores preparados para atuarem
no contexto da transformação digital. Infelizmente há uma
perspectiva de avanço das demissões de professores, em função das
novas plataformas e tecnologias educacionais. Por outro lado, os
professores poderão se transformar em produtores de conteúdo, em
mentores de diferentes estudantes, em designers de novos cursos e
modelos de aprendizado.

9- Sucesso dos estudantes – As IES estão aprendendo que é preciso
cuidar do sucesso dos estudantes. Algumas aprendem pela dor,
quando percebem que o estudante evadiu da instituição. O sucesso
do aluno não está necessariamente em conseguir um emprego. O
sucesso precisa ser acompanhado e medido ao longo da trajetória do estudante, na IES. É preciso acompanhar seu engajamento nas
atividades acadêmicas, esportivas e de lazer, seu desempenho nas
diversas disciplinas do seu curso, sua assiduidade, enfim, suas
atividades, durante o tempo em que está matriculado. Nesse sentido, a IES precisa utilizar as ferramentas do big date, algoritmos e aprendizado adaptativo, entre outras ferramentas tecnológicas, além de compor um grupo de pessoas responsáveis para analisar e
acompanhar o sucesso dos estudantes. Sucesso decorrente de boas
estratégias de avaliação contínua desses estudantes. Da mesma
forma, recomendamos que esse tema esteja presente nas suas reuniões estratégicas.

10-Transformação digital – Não acreditamos no sucesso da IES que
deixar o tema da transformação digital em segundo plano. É um
assunto que precisa se tornar prioritário. Antes de tudo será preciso
conhecer o significado da transformação digital e, posteriormente,
desenhar um plano de mudanças na instituição, de curto, médio e
longo prazo. De modo geral, há pesquisas que demonstram que há
poucas IES que tratam o tema com a devida atenção. Outra
mudança que será necessária em 2021, se já não aconteceu, é
transformar a área de tecnologia da informação em estratégica. As
fronteires entre a área de TI e as áreas administrativas e acadêmicas
tendem a se diluir. Ambas precisam procurar soluções para melhorar
a eficiência institucional, o sucesso dos estudantes, a formação dos
professores, na perspectiva das tecnologias educacionais, para que a
IES avance nas mudanças que são necessárias.

11- Integração com empresas, associações, entidades e sociedade –
Definitivamente, em 2021, as IES precisam criar mecanismos de
diálogo com as diferentes representações públicas e privadas. No
caso da integração com as empresas, há avanços e bons exemplos
no sistema de ensino superior, mas ainda são exceções. Uma IES é

constituída em um contexto social, por uma necessidade da própria
sociedade. O mundo acadêmico não pode ficar distante do mundo
produtivo. Manter um bom nível de relacionamento não significa
formar unicamente para o mercado, mas formar pessoas que tragam
diversas soluções para os problemas enfrentados pela sociedade. A
IES não pode abrir mão de sua função primordial, que é a formação
de cidadãos, de pessoas com capacidade de análise e de percepção
da dinâmica da sociedade; por outro lado, a IES é uma instituição de
conhecimento, de ideias, de pesquisa, de busca de soluções para
problemas reais.

É certo que alguns dos temas indicados acima sejam os mesmos de 2020. O fato é que as mudanças geradas pela pandemia já estavam presentes dos debates sobre inovação no ensino superior, no plano de ações e na dinâmica de um conjunto de IES. Todavia, havia e há dificuldades de transformar intenções em ações concretas. O receio não pode se sobrepor à inovação.


Nossa recomendação final: faça inovação com consistência, elabore um projeto relevante e sejamos felizes em 2021!

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